“Grande perigo”: Calor extremo se torna cada vez mais comum no Brasil

Atualizado em 15 de novembro de 2023 às 7:51
Relógio de rua marcando 42 graus
Reprodução/Agência Brasil

Devido às elevadas temperaturas, 15 Estados brasileiros e o Distrito Federal encontram-se sob alerta de “grande perigo”, conforme indicado por diferentes agências meteorológicas. A atual onda de calor, prevista para persistir em algumas regiões ao longo da semana, está projetada para estabelecer recordes históricos de temperatura em diversas cidades, com termômetros indicando até 13 ºC a mais do que o esperado para esta época do ano em alguns locais. A sensação térmica pode ultrapassar os 50 ºC em determinadas cidades.

O fenômeno é atribuído a uma combinação de fatores, incluindo o El Niño, a formação de um “domo de calor” e as mudanças climáticas. Estudos recentes também apontam para a crescente frequência dessas ondas de calor no Brasil.

Infelizmente, a perspectiva é de que eventos climáticos extremos, como verões intensos e chuvas torrenciais, tornem-se mais frequentes e intensos no futuro. Especialistas ressaltam a urgência de discutir planos de mitigação e adaptação a esses eventos.

Governo de São Paulo distribui água na capital em meio a onda de calor — Foto: Maria Isabel Oliveira/O Globo

Calor se supera a cada ano no Brasil

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou um relatório em 8 de novembro, indicando que a temperatura média no Brasil nos últimos quatro meses superou os registros históricos. O ano de 2023 é previsto para ser o mais quente desde a década de 1960, segundo o Inmet.

Além disso, um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra um aumento considerável nos eventos climáticos extremos no Brasil desde 1960.

O número de dias com ondas de calor, as anomalias positivas de temperatura máxima e mudanças no regime de chuvas são indicativos dessas transformações. O relatório destaca que o Brasil já está experimentando os impactos das mudanças climáticas, e esses eventos extremos tendem a se agravar nas próximas décadas em decorrência do aquecimento global, de acordo com Lincoln Alves, pesquisador do Inpe.

A explicação para a atual onda de calor no Brasil, de acordo com especialistas e relatórios, não pode ser atribuída a um único fator, mas sim a uma combinação de fenômenos e mudanças climáticas. O El Niño, caracterizado pelo aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico próximo à Linha do Equador, é apontado como um dos contribuintes. Esse fenômeno eleva as temperaturas em várias regiões do planeta, incluindo partes do Brasil.

Temperaturas no Sudeste e no Centro-Oeste podem chegar a 44 Cº. Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil

O que explica esse calor todo?

A geógrafa Karina Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca a formação de um “domo de calor”, uma área de alta pressão atmosférica que aprisiona o ar quente, como outro elemento influenciador. Essa condição está associada a uma instabilidade de chuvas nas áreas periféricas dessa massa de ar.

A análise da Climate Central indica que o El Niño está começando a impactar as temperaturas, e a maior parte de seus efeitos será sentida no próximo ano. Há previsões de que os próximos 12 meses possam ser ainda mais quentes, seguindo a tendência de aquecimento global alimentada pela poluição de carbono.

A pesquisadora Karina Lima observa que o aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos está interligado. O calor acumulado no sistema terrestre contribui para a intensificação desses eventos. Embora o El Niño possa atuar como um catalisador, é esperado que, mesmo em anos sem sua influência pronunciada, eventos extremos relacionados à temperatura e chuvas persistam.

O relatório do Inpe destaca mudanças históricas no clima brasileiro, apontando um aumento significativo nos eventos climáticos extremos desde 1960. As anomalias positivas de temperatura máxima, mudanças nos padrões de chuva e a frequência de dias com ondas de calor aumentaram ao longo das décadas.

Diante desse cenário, especialistas enfatizam a necessidade urgente de abordar as mudanças climáticas. A transição para fontes de energia menos poluentes, a preservação das florestas e a redução do desmatamento são consideradas medidas cruciais. Acordos internacionais, como os discutidos nas cúpulas do clima, visam limitar o aumento da temperatura global para minimizar os impactos adversos.

Além da mitigação, a adaptação das cidades para lidar com situações de calor extremo também se torna essencial. Medidas como aumento da vegetação em áreas estratégicas, investimento em isolamento térmico residencial e conscientização pública são citadas como componentes necessários para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Karina Lima destaca a urgência da situação e a necessidade de reconhecer a transversalidade do problema, que afeta diversas áreas da vida humana, desde a segurança alimentar até a saúde e a economia. Ela conclui ressaltando que as mudanças climáticas representam o maior desafio da humanidade.

“Precisaremos repensar as cidades, aumentar a vegetação em locais estratégicos, como os pontos de ônibus e os locais em que as pessoas ficam expostas por um tempo prolongado, investir no isolamento térmico das casas, pintar telhados com cores mais claras, garantir o acesso a água potável e ao protetor solar, fazer campanhas de conscientização, evitar exposições ao calor que não sejam absolutamente necessárias. Não damos o devido valor à urgência deste problema. As mudanças climáticas são uma questão transversal, que afeta todas as áreas da nossa vida, da segurança alimentar à saúde e a economia. E esse é o maior desafio da Humanidade”, conclui ela.

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