“Mães Leoas”: grupo bolsonarista expõe crianças para atacar vacinação

Atualizado em 26 de dezembro de 2021 às 20:05
“Mãe leoa” com os filhos em ataque às vacinas

O nome remete a proteção e cuidado. No fundo é só mais uma xaropada negacionista cheia de som, fúria e fake news. Mulheres bolsonaristas criaram o grupo “Mães leoas” para atacar a vacinação usando seus próprios filhos.

No Telegram, são mais de 3 300 inscritos.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 17, determina que “na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem”. A exposição da criança pode representar uma ameaça ao direito à imagens, além da vida privada.

Para a lei, não importa quem pratica a exposição. Ou seja: o fato de ser o responsável pelo menor não torna a exposição menos danosa. 

Essa prática, inclusive, tem um nome: sharenting, mistura das palavras em inglês share (compartilhar) e parenting (paternidade). Tem muito mais a ver com expor informações sensíveis ao menor, como, por exemplo, o nome da escola em que estuda, mas não exclui o simples compartilhamento da imagem da criança ou adolescente.

A Sociedade Brasileira de Pediatria publicou o “Guia Prático de Atualização “#SemAbusos #MaisSaúde”, para orientar os profissionais de saúde, pais e responsáveis sobre a influência das tecnologias, redes sociais e internet nas saúde e comportamento das crianças e adolescentes.

Segundo o Guia, “as famílias, no geral, estão apreensivas e cheias de incertezas, pois acessam muitas informações controversas ou fake News, que são distorções da informação científica, podendo mesmo ser perigosas à qualidade de vida nas questões de saúde e bem-estar”.

Associar a imagem de uma criança ao chorume de fake news das redes sociais pode ser considerado uma forma de exposição do menor. Se uma rede de televisão não pode expor o rosto de um menor de idade, certamente que os pais também não.

A vida de uma criança ou adolescente não pertence aos pais. Eles apenas são tutores no processo de desenvolvimento físico, mental e intelectual. Como lembra a SBP, crianças e adolescentes não são mini adultos.

A médica e presidente da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica, Maria Emilia Gadelha Serra, publicou um vídeo em seu Twitter de um menininho sendo obrigado a repetir os sintomas mais graves causados pela vacina contra Covid-19.

Obviamente o pequeno não consegue falar “infarto do miocárdio”. Como se a capacidade de falar palavras difíceis determinasse quem pode e quem não pode ser vacinado.

Ozonioterapia é mais um tratamento sem comprovada eficácia que foi muito difundido pelo plano de Saúde Prevent Senior, juntamente com a hidroxicloroquina. Consiste em injetar gás ozônio, eventualmente no reto, por meio de uma sonda.

Maria Emilia tratou da mãe de Luciano Hang, que morreu como cobaia da Prevent Senior. 

“Não vou vacinar meus filhos com uma vacina que não é eficaz, que não protege. Vamos lutar juntas contra essa crueldade com nossas crianças”, diz uma outra mulher identificada como Tatiana.

Uma garota de 17 anos é vista em um dos posts. Ela fala que teve uma trombose no braço nove dias após tomar a vacina da Pfizer, sem, no entanto, apresentar prova alguma sobre o ocorrido.

Fake news antivacina das “mães leoas”

Outra é obrigada a segurar folhas de papel onde se lê: “Não ao Passaporte Sanitário”. “Eu não sou covarde”, diz a menina, incentivada pela mãe.

Dados até 29 de novembro indicam que 558 crianças de 5 a 11 anos morreram de covid-19 no país. Foram 297 mortes notificadas em 2020 e mais 261 reportadas em 2021.

Superam a média anual de óbitos por moléstias circulatórias, paralisia cerebral e câncer no cérebro.

Picaretagem evangélica é obrigatória

 

Fake news

Como toda a rede bolsonarista, esta também se vale de todo o arsenal notícia falsas contra vacinas. Um exemplo de desinformação vem do uso de mentiras de um site do governo estadunidense, que afirma que o tempo de estudo previsto para vacina da Pfizer na faixa de 5 a 11 anos vai até 2026.

Não é explicado que todo medicamento tem uma fase de estudos pós comercialização que é incluída nos testes clínicos.

Não poderia faltar a presença de “células de fetos abortados”. A postagem afirma ainda que a vacina da Pfizer foi “testada em bebês órfãos na Polônia, EUA e Espanha”.

O site bolsonarista “Tribuna Nacional” inventa que o número de crianças mortas subiu 44% no Reino Unido após a aplicação da vacina.

Uma tal Renata Magalhães, do Rio Grande do Sul, garantiu que “não temos liderança e nem queremos saber de ligações políticas” em entrevista ao blogueiro bolsonarista Políbio Braga.

Talquei?