Guarujá foi sequestrado pelo PCC, aponta investigação contra vereadores

Atualizado em 12 de outubro de 2024 às 13:30
Fachada da Câmara dos Vereadores de Guarujá. Foto: reprodução

A Polícia Civil de São Paulo revelou em um relatório da Operação Hereditas que a Prefeitura e a Câmara Municipal de Guarujá, na Baixada Santista, estão sendo investigadas por vínculos com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O documento, ao qual o UOL teve acesso, destaca que a administração municipal pode ter sido “sequestrada” pela organização criminosa, com evidências de fraudes em licitações que favoreciam empresas ligadas a integrantes do grupo.

A investigação aponta que ao menos oito contratos, somando cerca de R$ 70 milhões, podem ter sido fraudados. Três vereadores estão sob suspeita: Edmar Lima dos Santos (PP), conhecido como Juninho Eroso, presidente da Câmara; Mário Lúcio (Cidadania), considerado um dos principais articuladores do esquema; e Santiago Ângelo (PP).

As autoridades afirmam que eles teriam direcionado contratos com o intuito de desviar dinheiro público em troca de propinas. Embora tenham sido reeleitos, os vereadores não se pronunciaram quando procurados pela reportagem.

Além dos vereadores, o empresário Cláudio Fernando de Aguiar (Novo), um candidato a prefeito, também é investigado, mas nega qualquer irregularidade. O relatório cita outros três vereadores que ainda podem ser alvo de investigações oficiais, embora não haja progresso nesse sentido até o momento.

O presidente da Câmara Municipal, Juninho Eroso, emprega em seu gabinete a viúva de Cristiano Lopes Costa, conhecido como Meia Folha, um dos líderes do PCC na região, que foi assassinado em março deste ano.

Juninho Eroso (PP), um dos investigados por relação com o PCC. Foto: reprodução

Meia Folha era proprietário de uma empresa que recebeu quase R$ 20 milhões em contratos com a Câmara e a Prefeitura entre 2022 e 2024. Um dos contratos investigados, no valor de R$ 6 milhões, visava a transmissão de sessões da Câmara em TV aberta e beneficiava o traficante Caio Fé da Silva, conhecido como Maradona.

A Polícia Civil aponta que o contrato “teria sido uma imposição de Meia Folha” à mesa diretora da Câmara. Outras fraudes incluem um contrato de R$ 3,5 milhões para aluguel de computadores e R$ 13 milhões para aluguel de impressoras, com a polícia destacando que o valor previsto para 34 milhões de cópias anualmente era “inverossímil”, dado o avanço da digitalização de documentos.

As investigações também envolvem a Secretaria Municipal de Educação, com contratos que totalizam R$ 42 milhões, onde o vereador Mário Lúcio e o ex-secretário Márcio Reis são apontados como articuladores. Os documentos relacionados a esses contratos foram assinados com empresas registradas em nomes de laranjas.

A Prefeitura de Guarujá, por sua vez, informou que não recebeu notificação sobre o relatório da investigação. O atual prefeito, Válter Suman (PSB), não se manifestou publicamente sobre o assunto. Com o PCC consolidando sua presença na Baixada Santista, a região tem se tornado um ponto estratégico para a facção, refletindo a complexidade das relações entre política e criminalidade na área.

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