Guedes não esconde que Bolsonaro só pensa nos precatórios. Por Fernando Brito

Atualizado em 15 de setembro de 2021 às 22:23
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes; – Foto; Agência Brasil

Guedes não esconde que Bolsonaro só pensa nos precatórios

Por Fernando Brito

O encontro, hoje, entre Paulo Guedes e Luiz Fux, se ainda fosse preciso, evidencia que a “paz e amor” do Jair Bolsonaro da semana é apenas a materialização daquele “se queres a paz, prepara-te para a guerra” do pré- 7 de Setembro.

Tão manso quanto o chefe, Guedes disse que estava ali em “um pedido desesperado de socorro” para que o Supremo desse o dito pelo não dito, recuasse na determinação de que se pagassem os precatórios indiscutíveis com o Orçamento de 2022.

Podem, de fato, ser parte por motivos nobres: bancar o auxílio que sucede o Bolsa Família. Mas a quantia que se quer permitir ser transferida ao próximo governo é quase três vezes o que seria necessário para isso.

É um cheque de R$ 59 bilhões. Valor que seria empurrado para o próximo governo e que, portanto, terá de sair de programas de investimento e de assistência social.

Este é o problema no aspecto ético: assumir que o novo mandatário do país, para pagar o “pendura”, terá de tirar de algum lugar, provavelmente dos próprios programas sociais que se diz querer alavancar.

O segundo problema é o técnico-jurídico; as cortes judiciais não podem mais decidir pelo ângulo do Direito, mas só pela conveniência administrativa o que o Governo Federal deve e deve pagar?

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Vai criar uma bola de neve infindável de “papagaios” que se empina para 22,24,25, 26…? Porque pedalar com a desculpa do “teto”, se virar regra, durará tanto quanto ele; 10 anos sem revisão e mais 10 depois de revisto, a contar de 2016. Até 2036, portanto.

Sem falar, claro, no lucrativo mercado de comprar precatórios com deságios de gente que, enforcada, espera há anos por receber seus direitos.

Não era o mesmo Paulo Guedes que prometia alcançar R$ 1 trilhão – quase 20 vezes os R$ 59 bi que pretende empurrar para a frente – com as privatizações? Não era ele que acenava com uma economia trilhardária com a reforma previdenciária? Não é o mesmo que diz que o país perde com o dólar nas alturas por conta do “barulho político” que o seu chefe faz?

A questão essencial é se o Supremo vai empoderar, com dinheiro farto e irresponsável, o presidente que o ataca e o quer “enquadrar”.

Se o fizer, estende a corda com que Jair Bolsonaro o pretende enforcar.

(Texto originalmente publicado em TIJOLAÇO)