Guedes usa pandemia para promover Estado mínimo. Por José Carlos de Assis

Atualizado em 17 de março de 2021 às 10:48
Paulo Guedes. Foto: Carl de Souza/AFP

Por José Carlos de Assis, Economista Político

As reiteradas declarações de Paulo Guedes em favor da vacinação em massa é pura hipocrisia

O programa de vacinação, em si, não é da área dele.

O que seria da área dele é a liberação do dinheiro necessário para pagar pela vacina. E nisso ele enrola o povo.

Ele quer condicionar a liberação dos recursos para o combate da pandemia ao corte do orçamento em outras áreas, como a de educação. Isso significa promover o estado mínimo com mão de gato.

O critério usado por este governo para promover o Estado mínimo, isto é, para reduzir ao máximo as funções do Estado, é limitar os gastos governamentais ao chamado teto orçamentário.

De um ano para outro o governo tem que congelar seus gastos. É como se a nação parasse.

Obviamente que, de um ano para outro, crescem as necessidades de educação, de saúde, de moradia, de saneamento. Se os gastos não podem crescer proporcionalmente, o país, progressivamente, vai ao colapso.

A aplicação do teto orçamentário produziu uma forte recessão já em 2020.

Neste ano, Guedes apelou para a pandemia para justificar uma recessão ainda maior. Em parte ele tem razão, não por seus méritos ou por ter mudado de ideia, mas porque o Congresso lhe impôs a concessão de benefícios emergenciais de 600 reais.

Agora, ele quer reduzir os benefícios, de novo para proteger não o povo, mas para proteger o teto orçamentário. Aqui, de novo, ele fala em cortar recursos para educação para compensar a volta parcial dos benefícios.

Nesse contexto, o Congresso é manipulado à vontade pelo ministro da Economia. Fora os progressistas, e incluindo muitos deles, a esmagadora maioria dos deputados e senadores não entende absolutamente nada de teto orçamentário. Pensam que é uma rubrica no orçamento, nada mais.

Na votação desse monstrengo, foram levados a decidir por razões político-partidários, ignorando de forma absoluta o interesse público e a própria coerência interna da economia.

O fato é que, com ou sem pandemia, o aumento anual do gasto público é essencial para o crescimento econômico.

O setor privado não pode favorecer o crescimento porque o que ele gasta de investimento com uma mão ele reduz com a outra, já que  não cria moeda nova. Daí resulta um equilíbrio de gastos e receitas.

Já o setor público cria moeda. Na medida em que expande seus gastos para além do orçamento, está injetando moeda nova na economia. Em consequência, gera crescimento.

O fetiche que os banqueiros e seus asseclas criaram na cabeça do povo é que a expansão da moeda gera inflação. Isso é absolutamente falso.

Se a economia está em recessão, o aumento da moeda – ou seja, o fato de se furar o teto orçamentário – é absolutamente favorável ao crescimento econômico, porque o setor público estará criando mais poder de compra, e o aumento do poder de compra estará gerando investimento e crescimento econômico.

Se isso é tão simples, porque não aplicar logo a teoria subjacente a essas ideias, ou seja, a teoria de Finanças Funcionais ou a Teoria Monetária Moderna?

A resposta também é simples: Porque os banqueiro movem mundos e fundos – principalmente fundos – para comprar a mídia, com o argumento já mencionado de que o aumento dos gastos públicos gera inflação, mesmo numa situação em que a demanda está muito abaixo da oferta.

E como mudar tudo isso? No meu modo de ver, pelas eleições de 2022.  

J. Carlos de Assis
Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)[2] e autor de mais de 20 livros.