Gueto de Rafah. Por Jeferson Miola

Atualizado em 13 de fevereiro de 2024 às 22:36
Prédio bombardeado por Israel em Rafah. Foto: Said Khatib/AFP

A África do Sul protocolou [13/2] recurso emergencial na Corte Internacional de Justiça [CIJ] pedindo que a instância jurídica da ONU adote medidas em relação ao Estado de Israel, cuja “ofensiva militar sem precedentes em Rafah” caracteriza uma “violação grave e irreparável tanto da Convenção sobre Genocídio como da Ordem do Tribunal de 26 de janeiro de 2024”.

A petição do governo sul-africano alerta que “existe aqui uma situação de extrema urgência que afeta cerca de 1,4 milhões de palestinos vulneráveis em Rafah, pelo menos metade dos quais são crianças. Eles correm sério risco de sofrer danos irreparáveis ao seu direito de serem protegidos de atos de genocídio [executados] por um Estado que já foi considerado por este Tribunal como agindo em violação plausível das suas obrigações em relação à Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio”.

A Convenção sobre Genocídio que Israel sistematicamente viola foi estabelecida em 1948 como resposta das Nações Unidas ao Holocausto de judeus pela Alemanha nazista.

É uma trágica ironia da história, portanto, que o próprio Estado de Israel esteja promovendo o Holocausto palestino. Com a cumplicidade e apoio criminoso dos EUA e a complacência infame principalmente de países europeus.

O regime nazi-sionista de Netanyahu repete em Rafah –em escala ainda mais terrivelmente desumana– o Gueto de Varsóvia, onde Hitler cercou com muros e encurralou a população judaica da capital da Polônia [1940] com o objetivo de otimizar seu extermínio.

Os 380 mil judeus confinados no Gueto de Varsóvia ficavam expostos a doenças, epidemias, e submetidos a severa restrição alimentar. Recebiam uma ração diária com valor calórico inferior a 10% da nutrição dos poloneses não-judeus, e ainda mais baixa que a dieta dos alemães.

No outono europeu de 1942, cerca de 300 mil judeus do Gueto de Varsóvia foram transferidos para campos de concentração como o de Auschwitz, e para o campo de extermínio de Treblinka, onde a maioria foi morta em câmaras de gás.

Escombros de uma mesquita após o bombardeio israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Foto: Mohammed Abed/AFP

Israel está fazendo o mesmo com a população palestina da Faixa de Gaza: obrigou a evacuação das cidades e povoados do norte e do centro do território e forçou seu deslocamento para Rafah, na fronteira sul com o Egito.

Pelo menos um milhão e quinhentos mil palestinos foram presos e encurralados em Rafah, onde sobrevivem precariamente, em condições deploráveis, aguardando serem assassinadas por diferentes métodos: fome, adoecimento, bombardeio, arma química ou fuzilamento [aqui].

A petição da África do Sul para a CIJ cita relatórios de organizações humanitárias como o Conselho Norueguês para Refugiados e a Save the Children, que alertam que “o que acontece em Rafah estaria além dos nossos piores pesadelos”.

A OMS, UNICEF, UNRWA e diversas agências da ONU também denunciam, em vão, a iminência da hecatombe em Rafah.

Netanyahu avisou que o Exército nazi-sionista continuará a agressão ao povo palestino até a “vitória total”, ou seja, até a “solução final”, que significa a limpeza étnica, com o extermínio dos palestinos.

O Holocausto, enfim.

Publicado originalmente no blog do autor

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