
Uma história em quadrinhos pode degradar toda uma nação? Não há dúvida alguma que sim para a deputada francesa Danièle Obono. Foi num dia de férias que a parlamentar do partido esquerdista La France Insoumise descobriu a ficção de verão da revista de extrema direita Valeurs Actuelles, que a retratou como uma escrava, acorrentada pelo pescoço.
Da esquerda à direita, a classe política francesa imediatamente condenou a publicação. Na justiça, a revista foi processada pelo Ministério Público, associações de direitos humanos, além da própria vítima. A publicação ultraconservadora se viu forçada a pedir desculpas. “A instituição republicana é manchada por essa imagem degradante”, afirma Obono.
Nesta entrevista exclusiva para o Diário do Centro do Mundo, a Insubmissa expõe a contradição do país que declarou os direitos do homem e do cidadão e conhece a legitimação dos discursos de extrema direita, além de um racismo sistêmico.
“Há uma LePenização das mentes”, analisa, numa referência à família Le Pen que lidera o partido ultraconservador Rassemblement Nacional.
Ela denuncia o espaço midiático concedido a comentaristas que proferem diariamente discursos de ódio e constroem o “ecossistema ideal” para ataques como o que ela sofreu. Fala sobre os desafios de militar pelo afrofeminismo, o altermundialismo e o anti-imperialismo nos tempos atuais e como lidar com líderes políticos como Bolsonaro, que desprezam o desafio ecológico que se impõe à humanidade.
DCM: A senhora poderia se apresentar ao público brasileiro e explicar qual é seu projeto político?
Danièle: Eu sou deputada da 17a circunscrição de Paris, entre o distrito 18 e o 19, no noroeste parisiense. São dois bairros bastante populares, bastante multiculturais. Eu sou militante política há quase vinte anos. Mas é a primeira vez que eu sou eleita a um cargo público, enquanto deputada. Fui eleita em 2017 pelo movimento A França Insubmissa (LFI).
Eu trabalho na Assembleia Nacional na Comissão de Leis. Eu trabalho com as questões ligadas à justiça, à segurança, ao direito e à liberdade. É uma grande comissão. Também acompanho os trabalhos da Comissão Permanente e da Comissão de Negócios Europeus, onde represento o grupo da França Insubmissa e a delegação dos territórios (franceses) ultramarinos.
Eu sou militante engajada no movimento altermundialista, então eu assisti aos fóruns sociais mundiais, com destaque para os que aconteceram no Brasil e em seguida na Europa. Sou também uma militante anti-imperialista. Eu me engajei nos anos 2000 no movimento anti-guerra, contra a guerra no Iraque, assim como a guerra no Afeganistão.
Sou uma militante antirracista, feminista, e mais especificamente afrofeminista, leninista, marxista, porque é também minha formação política. Quando eu comecei a militar, eu encontrei militantes dessa corrente de extrema esquerda, que me iniciaram no partido e nas ideias revolucionárias.
São identidades políticas múltiplas que constituem a deputada e a cidadã engajada que eu sou.
DCM: Como soube da publicação da revista “Valeurs Actuelles” que a representou como uma escrava numa história em quadrinhos?
Danièle: Eu estava de férias com a minha família, no sul da França, preparando o retorno à política. Então eu estava voltando progressivamente às redes sociais e foi ao receber notificações que eu tive conhecimento da publicação da Valeurs Actuelles.
Eu costumo receber notificações e não é a primeira vez que eu sou atacada desta maneira, isto é, de maneira racista e sexista. Mas é fato que neste caso, a natureza desse artigo e sobretudo a imagem é particularmente violenta, o que suscitou a reação imediata primeiro dos meus colegas parlamentares e depois a minha, que denunciei este ataque, do que é para mim um pseudojornal de opinião e um órgão da extrema direita.
DCM: A senhora decidiu justamente denunciar a revista. Em que pé está o processo?
Danièle: Há uma investigação em andamento. O Ministério Público através do Procurador-Geral também decidiu denunciar porque no momento da difusão destas imagens não é apenas a minha pessoa que é atacada, minha história, minha herança.
São também todas as pessoas que eu represento, os cidadãos e as cidadãs que me elegeram, mas também aquelas e aqueles que eu represento enquanto deputada da nação, o conjunto da nação. Através da minha pessoa, é também a instituição republicana que é manchada por essa imagem degradante e esta injúria que é feita à minha pessoa e ao que represento.
O Ministério Público decidiu abrir uma investigação e ela está em andamento. Em todo caso, eu denunciei também, assim como diversas associações de defesa dos direitos humanos, como a Liga dos Direitos Humanos e associações antirracistas.
DCM: E individualmente, qual foi sua reação?
Danièle: Como pessoa, eu percebo a imagem como violenta, extremamente degradante. E sobretudo, isso me confirmou o que se enfrenta como mulher, mulher racializada, mulher negra que tem visibilidade no espaço público, é também a expressão de um racismo e de um sexismo sistêmico.
Ou seja, o que vivem no cotidiano milhões de pessoas, o racismo cotidiano, as microagressões, mas também as mulheres, os comentários, as piadas de mau gosto, o que foi feito contra mim é feito numa outra escala a milhões de pessoas no cotidiano e eu acho que foi isso que ecoou frente a esse ataque.
O fato de que muitas pessoas que se reconhecem em mim porque eu porto ideias que elas querem ver se realizar também porque eu pareço com elas.
Há muito pouca diversidade cultural na paisagem política. Também se sentiram atacados aqueles que pensaram: se é possível fazer isso a uma deputada, quem protegerá os cidadãos e cidadãs que vivenciam cotidianamente o racismo?
Foi muito duro, mas eu já sabia, pois não é a primeira vez que sou atacada, do funcionamento de um espaço midiático que favorece essa sensação de impunidade que permitiu que essas pessoas pudessem produzir e escrever esse artigo se sentindo legitimadas.
Há do meu ponto de vista todo um ecossistema, todo um estado de espírito que permitiu esse ataque. Em relação a isso, senti desgosto, raiva, indignação e determinação a continuar esse debate, a defender minhas ideias, as ideias do programa da França Insubmissa, ideias antissexistas, antirracistas, republicanas e progressistas.
DCM: A revista de extrema direita se desculpou. Ao mesmo tempo, o mesmo pedido de desculpas foi criticado por uma de suas crônicas, intitulada “Sem desculpas para uma racialista sem desculpas (‘Pas d’excuses à une racialiste sans excuses’)”. A revista Valeurs Actuelles se desculpou realmente?
Danièle: Claramente não. Eles receberam um retorno muito negativo porque houve uma ampla denúncia e condenação aos seus atos. Então eles se viram de uma certa maneira no dever de se desculpar.
Ao mesmo tempo, as desculpas não servem para nada porque o mal já foi feito, a injúria já foi feita. O ataque criou essa violência. Politicamente eles continuam assumindo uma posição extremamente violenta no debate político. No final das contas, eles não se sentem nem um pouco responsáveis por seus atos.
Não me interessa o que eles têm a dizer porque eu já os considerava como pessoas não frequentáveis pelas ideias que veiculavam de adversários políticos. Para mim, a única resposta é judicial. E ela é política na condenação política e midiática.
DCM: O conjunto da classe política criticou essa publicação. Como a senhora percebe essa reação?
Danièle: Eu penso que é uma reação bem-vinda, um pouco tardia do meu ponto de vista porque eu não sou a primeira, nem a única, mulher negra eleita política, mulher racializada, a ser alvo desse tipo de ataque.
Antes de mim, Christiane Taubira foi alvo de ataques racistas e sexistas, assim como outras.
É o resultado do que eu chamo de “lepenização” (referência à líder de extrema-direita Marine Le Pen) das mentes, o avanço das ideias de extrema direita no campo político e ao nível midiático.
Temos o que hoje eu chamo de “zemmourização” (referência ao comentarista ultraconservador Eric Zemmour), esse militante de extrema direita a quem um canal de televisão ofereceu, oferece todo dia uma hora de sua programação. Trata-se de uma pessoa condenada múltiplas vezes por incitação ao ódio. No entanto, ele tem o canal aberto para dar vazão a todas as suas obsessões.
Portanto temos esse fenômeno em que abrem os estúdios de televisão a militantes de extrema direita para fazerem sua propaganda racista, sexista, etc. Esse é o fenômeno que, do meu ponto de vista, permite à Valeurs Actuelles de se sentir legitimada a dirigir esse ataque contra mim.
Mas há um efeito bumerangue pois foram longe demais na maneira como visaram a pessoa que visaram, a pessoa que sou, pintando-me como uma pessoa acorrentada, escravizada, o que atinge um tema que ainda é doloroso e delicado na França por diversas razões. Então a reação quase unânime do campo político foi bem-vinda.
No entanto, para ir além da reação imediata, a questão política, do meu ponto de vista, é que os comportamentos mudem e que o conjunto da classe política se recuse a participar de uma maneira ou de outra dessa atmosfera extremamente tóxica, que favorece ataques.
DCM: Ao mesmo tempo, a extrema direita acusa a esquerda, principalmente a extrema esquerda, de praticar um terrorismo intelectual. É o caso?
Danièle: Eu não acredito que exista hoje na França o equivalente de extrema esquerda segundo o Sr. Zemmour, isto é, alguém que num canal generalista tenha uma hora de televisão todos os dias para defender ideias anticapitalistas ou revolucionárias.
Hoje, as mesmas pessoas que denunciam um “terrorismo intelectual” na televisão, em todos os jornais se estendem por todos os veículos possíveis e imagináveis de imprensa para explicar que eles não têm a palavra.
É contraditório. A realidade que temos é um fenômeno e o vemos em outros países europeus ou nos Estados Unidos, um campo de extrema direita que está ganhando pontos em termos de batalha ideológica e política, inclusive porque as políticas conduzidas pelos governos precedentes e principalmente pelo governo atual na França legitimaram seus discursos políticos.
Quando se tem governos ou ministros que retomam teorias da extrema direita para estigmatizar pessoas migrantes, foi o caso na França com a Lei Asilo e Imigração, ou para atacar pessoas de religião muçulmana, que é o caso atualmente com um debate repugnante em torno do “separatismo”, do islã, etc., tudo isso reforça e legitima a extrema direita.
Ainda mais que Emmanuel Macron indicou claramente querer ter em 2022 como adversária nas eleições presidenciais Marine Le Pen e a extrema direita. Você tem uma maioria, um governo que estende o “tapete vermelho” para todas as temáticas da extrema direita e que dá o tom no espaço midiático.
Independentemente de ser de esquerda, de gostar ou não dela, tudo isso é profundamente antirrepublicano. Não é nem mais uma questão de espectro político, mas é questão de uma ideologia antirrepublicana, antidemocrática. Isso é extremamente grave.
DCM: A França também teve manifestações do movimento Black Lives Matter, o que foi criticado por uma parte da classe política sob o argumento de não ser um problema francês. Quem tem razão?
Danièle: A questão não é quem tem razão, mas qual é a realidade hoje. O que dizem atualmente todos os relatórios de associações e organizações não-governamentais a nível nacional e internacional sobre o racismo na França e o racismo sistêmico?
Falo de organizações da ONU, da União Europeia, associações e ONGs como a Anistia Internacional e Human Rights Watch. A nível nacional, há organizações como os Defensores do Direito (“Defenseurs du droit”), que é uma instituição independente, encarregada de defender os direitos do cidadao; a Comissão Consultativa dos Direitos Humanos (“Commission nationale consultative des droits humains”) que confirmaram tudo que dizem as pessoas vítimas de racismo, de violências policiais, ou de outras formas de discriminação.
Tudo isso está detalhado cientificamente, há diversos estudos que mostram, e são os termos dos defensores de direitos, que há um racismo sistêmico na população francesa, que se traduz em discriminação profunda em todos os aspectos da vida: no acesso ao emprego, aos estudos, na relação às instituições, à polícia.
O movimento Black Lives Matter se constituiu nos Estados Unidos contra as violências policiais e o racismo, mas é também uma realidade que existe na França. Por isso é que ele ecoou na França, porque se conecta com uma realidade vivida por milhares de homens, na maioria jovens e moradores de periferia, racializados, negros, árabes ou asiáticos, que são vítimas de abordagens policiais baseadas na aparência. Tudo isso está documentado.
São reivindicações das próprias pessoas ou de coletivos de famílias das vítimas que o denunciam há anos. Os fatos são claros. A questão são os discursos políticos que há em torno disso há anos e particularmente da parte do governo francês, que é de negar a realidade, não mobilizar os meios da República que permitiriam erradicar essas discriminações.
Há uma aceitação nas instituições governamentais de discursos da extrema direita, nas políticas que são implementadas. Quando não há formas de estigmatização direta, como o que está sendo preparado sobre a lei do separatismo, há uma falta de meios, como provam vários estudos, para implementar políticas ativas de luta contra a discriminação.
Isso ocorre tanto em relação ao governo quanto forças políticas de direita que estiveram no poder e aplicaram políticas xenófobas e racistas e certas forças ditas de esquerda que estiveram também no governo e que descredibilizaram a palavra política, recuando sobre engajamentos na luta contra a discriminação.
O discurso político desse governo e de forças políticas que negam a realidade do racismo na França não se sustenta quando confrontado à realidade estatística e à história desse país.
Quando falamos em discriminação sistêmica, são discriminações que se inscrevem também na história de um país que foi escravagista, que foi colonialista, que estruturalmente produziu e reproduziu nas suas instituições, no seu cotidiano também, a justificativa desse sistema de dominação e de exploração, que é o racismo, que se traduz pela discriminação.
DCM: Muitas das nossas leitoras e leitores se perguntarão se esse relato não é uma contradição com o fato de ser a França o país onde se fez a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Danièle: Mas é uma contradição que existe desde a Declaração de 1789. Essa Declaração é feita num momento justamente em que há colônias, há escravidão, é preciso esperar alguns anos para que a escravidão seja abolida. Ela será restabelecida.
Essa contradição faz parte da história deste país, como de outros países que proclamam belos ideais e não são sempre exemplares no tema em questão. Então, eu penso que, em todo caso, do ponto de vista francês, é preciso muito mais humildade.
Há uma grande e bela tradição de luta por emancipação, de luta por libertação, de luta progressista na França, que conseguiram obter vitórias. Eu penso primeiro na luta dos escravos e escravas, que sempre resistiram à opressão e que viveram a discriminação e de uma forma ou de outra se mobilizaram.
Tudo isso permitiu obter grandes avanços, é uma conquista, de luta, portanto não é algo dado de uma vez por todas. O fato que é uma questão de relação de forças serve para lembrar que a questão não é apenas proclamar ideais mas torná-los uma prática, estendê-los e essa é a batalha de pessoas como eu e outras que acreditam nos direitos humanos, na universalidade dos direitos humanos.
DCM: Seu presidente e o presidente brasileiro tiveram um conflito diplomático no ano passado por causa do desmatamento na floresta amazônica, desmatamento que continua, inclusive em outros biomas do Brasil e da América do Sul. Qual deve ser a postura da França em relação ao Brasil nesse tema?
Danièle: Eu acredito que a França tem sua própria responsabilidade pois há um território francês que faz fronteira com o Brasil, a Guiana Francesa, que é amazônico e possui uma grande riqueza, uma grande biodiversidade.
O que queremos é estar à altura da nossa responsabilidade e garantir a proteção dessa biodiversidade e é portanto necessário ser exemplar desse ponto de vista. Mas falta ser exemplar. Nós mesmos não respeitamos as exigências do Acordo de Paris, que já é bastante mínimo face à urgência ecológica.
Precisamos ser exemplares se quisermos convencer, pois é uma questão de convicção. A urgência ecológica é amplamente compartilhada pelo conjunto da população e eu acredito que no Brasil é uma consciência que existe e é muito forte.
Eu penso ser lastimável que certos dirigentes, e parece ser o caso do Sr. Bolsonaro, não dar o devido valor a essa questão. O que nós precisamos fazer é convencer e para isso é preciso assumir nossas responsabilidades.
Eu estive no Brasil e fiquei muito feliz, é um lindo país, com habitantes muito acolhedoras e acolhedores. Fui calorosamente recebida por diversas personalidades do governo, de maneira muito respeitosa, assim como pela sociedade civil. O contexto era justamente de uma missão de informação da Comissão de Negócios Europeus sobre o desenvolvimento sustentável nos acordos de livre-comércio.
Com um colega da République En Marche (LREM, partido do governo Macron) fomos ao Brasil para estudar justamente a questão do Mercosul e do acordo com a União Europeia.
Do meu ponto de vista, e é a conclusão do relatório, há uma falta de consideração das questões ambientais, o que nos apontaram as associações brasileiras que encontramos, as associações de defesa dos direitos humanos, da biodiversidade amazônica, de defesa das comunidades que são vítimas do desmatamento.
Nossa responsabilidade enquanto membros da União Europeia é ter exigências em relação ao acordo União Europeia-Mercosul e recusar um acordo que vai prejudicar a população brasileira, a agricultura camponesa, a biodiversidade.
Precisa-se ir além da encenação midiática, aqui e acolá; é no momento de assinar e assumir responsabilidades que se pode julgar os atos.
DCM: Novas medidas restritivas foram anunciadas na França. O país está gerindo bem a crise sanitária da Covid-19?
Danièle: O país é algo muito amplo. Primeiro, é a população, que tem sido a principal agente desde o início, a força ativa diante da pandemia.
Foi a maioria da população que permitiu diminuir a circulação do vírus durante o confinamento, que foi amplamente respeitado, que permitiu que a contaminação diminuísse.
Foram os profissionais da saúde que compôs a primeira linha, apesar da falta de meios. A partir desse momento, creio que houve uma grande expressão de solidariedade e de força da população.
Eu lamento que o governo não esteve à altura do seu papel, da sua responsabilidade em termos de proteção sanitária e de planejamento. Temos um governo que reagiu sempre com atraso e cuja prioridade parece não ser a proteção da população, mas a manutenção de atividades para gerar lucro.
Os últimos anúncios quanto a esse ponto são bastante estarrecedoras. O governo decidiu reduzir os direitos e as liberdades das pessoas nos seus momentos de lazer, de descanso e não no momento de trabalho, que parece ser o momento mais favorável à contaminação.
Quanto à imposição de um toque de recolher, nada é disponibilizado para garantir que as medidas sanitárias sejam respeitadas nas empresas, nem nas escolas, nem nas universidades, quando é lá que as pessoas passam a maior parte do tempo, onde supostamente há mais contaminações, no transporte nas horas de pico.
Os lugares que foram identificados como focos de propagação são os locais de trabalho e de estudo. Nestes locais, não foram disponibilizadas medidas para duplicar as aulas, para contratar funcionários, para verificar se nos locais de trabalho se praticam as medidas de proteção.
São lugares onde mesmo usando máscara a promiscuidade e as contaminações são mais suscetíveis. Mas nesse âmbito, nenhuma medida foi anunciada.
A impressão que temos e é o que disse o Sr. Macron é que as pessoas devam absolutamente ir trabalhar e que as crianças vão à escola; o trabalho e a economia antes de tudo.
É uma visão que se revelou um fracasso. Retomamos restrições com o risco de saturação dos hospitais, o que mostra que a estratégia adotada pelo governo até agora é um fracasso.
Houve muitas mentiras proferidas pelo governo desde o início da crise sobre as máscaras, sobre os testes. Ele disse no início que as máscaras não serviam para nada, que as pessoas não saberiam utilizá-las e hoje tornou-as obrigatórias em todo lugar. Por outro lado, as máscaras não são gratuitas.
Em um dado momento, elas pesam no orçamento, então as pessoas começam a reutilizar máscaras, o que já não as protege mais tão bem. O governo continua a se recusar a tornar as máscaras gratuitas.
O governo finge que vai tudo bem, pois fazemos milhões de testes, quando na verdade o atraso nos resultados faz com que eles se tornem obsoletos. As pessoas podem ter se contaminado nesse intervalo.
Há toda uma série de ações e inações que fazem com que a palavra governamental esteja cada vez mais descredibilizada. Isso é grave porque estamos em uma situação de urgência sanitária, de estado de urgência, que foi novamente decretado.
Temos a impressão de ter um governo à deriva e que não tem nenhuma visão estratégica a longo prazo, que não tem muita consciência infelizmente. Houve muitos erros de modo que hoje diversos ministros estão sendo processados na justiça por sua má gestão.
DCM: As eleições regionais e presidenciais se aproximam na França. A senhora pretende ser candidata?
Danièle: (risos) Não, mas eu apoiarei de todo modo a candidatura, que eu espero ser declarada em breve, de Jean-Luc Mélenchon, como eu o fiz em 2017. É a pessoa que hoje tem uma visão, uma estratégia de transformação social, democrática e ecológica para responder a todas essas urgências. Tenho portanto um candidato que quero apoiar e pelo qual desejo fazer campanha se ele se candidatar e eu espero que ele o fará.