Haddad sonha alto em relação às bicicletas: a questão é fazer acontecer.
Haddad vai fazer de São Paulo uma Amsterdã.
Foi, pelo menos, o que afirmou Ronaldo Tonobohn, superintendente de planejamento da CET, num debate esta semana sobre as experiências de mobilidade urbana em São Paulo e Nova York, com a participação de Caroline Samponaro, diretora de campanhas e organização da ONG novaiorquina Transportation Alternatives.
O dia não poderia ter sido mas propício para o evento, que começou atrasado devido ao megacongestionamento que, mais uma vez, parou a cidade. Os ciclistas, obviamente, conseguiram chegar na hora e talvez até mais cedo, assim como a reportagem do Diário, que subiu e desceu do mesmo ônibus sem sair do lugar e fez o percurso a pé. Nas ruas uma fila interminável de ônibus parados em seus corredores, motoristas deitados sobre o volante ou sentados na soleira das portas e uma multidão de pedestres vagando pelas calçadas.
Por tudo isso, Amsterdã parece estar a uma distância intransponível.
Nova York parece mais próxima. Lá, os deslocamentos por bicicleta ainda correspondem a somente 1% do total, mas este número vai se ampliar rapidamente. A cidade vem recebendo um choque de cultura de bike depois que o prefeito Michael Bloomberg colocou na secretaria dos transportes Jeanette Sadik-Khan, ativista do ciclismo. A missão de Jeanette, segundo Bloomberg, é transformar Nova York na metrópole mais verde do mundo. Sob Jeanette, Nova York construiu 300 km de ciclovias e ciclofaixas nos últimos anos. São Paulo, por comparação, tem apenas 66,5 km de ciclovias e 120 de ciclofaixas (incluídas aí as de lazer, que funcionam 9 horas aos domingos).
Para muitos, o gesto mais importante do prefeito Bloomberg para promover o uso de bicicletas, e assim tirar automóveis das ruas, foi nomear Jeanette. Talvez Haddad pudesse se inspirar nisso.
A ONG de Caroline está envolvida no esforço de Nova York para multiplicar as bicicletas. No encontro em São Paulo, ela falou na reconquista, para pedestres e ciclistas, do “espaço público” que foi sendo progressivamente ocupado pelos automóveis . “Promovemos atos simbólicos de ocupação desse espaço na Times Square”, diz ela. “A população começa a perceber claramente o espaço ocupado pelos automóveis.”
Como medir os avanços? “Percebemos que estamos indo bem quando vemos famílias e crianças usando a bicicleta”, diz Caroline. São Paulo, neste quesito, parte praticamente do zero.
Nova York criará 600 pontos com 10.000 bicicletas para uso público até maio deste ano. Onde estacionar tanta bicicleta? Nos novos bicicletários. Há dois anos foi aprovada a obrigatoriedade de instalação de bicicletários em todos os prédios comerciais da cidade. “Na vaga de um carro cabem cinco bicicletas”, disse Caroline em sua passagem por São Paulo.
E São Paulo, qual sua estratégia? Para Tonobono, o mais adequado é começar pela população que, atualmente, faz percursos de mais de 15 minutos a pé. Em São Paulo, 91% dos ciclistas são homens, 80% deles das classes C e D, com idade entre 20 e 49 anos. A maior demanda por bicicletas está nas periferias das zonas leste e sul, onde ocorrem mais de 9 milhões de deslocamentos a pé com duração superior a 15 minutos, em sua maioria feitos por mulheres.
A nossa Amsterdã, portanto, não deve começar por Manhattan. Vai surgir a partir a partir de Artur Alvim ou Parelheiros, onde ela não é um sonho, mas sim uma necessidade.
Uma boa maneira de avaliar o quanto pode voar Haddad é verificar seu desempenho na promessa de amsterdanizar São Paulo.