Haddad cancela ida à Assembleia da ONU nos EUA; saiba o motivo

Atualizado em 19 de setembro de 2025 às 17:20
Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Foto: reprodução

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na próxima semana. Embora tenha recebido o visto estadunidense, ele optou por permanecer no Brasil para acompanhar votações consideradas estratégicas no Congresso Nacional.

No ano passado, Haddad esteve em Nova York, onde participou de encontros com agências internacionais de classificação de risco. Desta vez, a decisão de não embarcar ocorre em um contexto diferente: além da prioridade dada à agenda doméstica, o gesto simboliza a delicada relação entre Brasil e Estados Unidos, considerada a mais tensa em dois séculos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, medida que o governo brasileiro não conseguiu reverter até agora. A justificativa da Casa Branca foi política: Trump alega que o Supremo Tribunal Federal (STF) estaria promovendo uma perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Lula, por sua vez, não pretende negociar recuos nesse campo.

Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: reprodução

Apesar do pano de fundo internacional, a Fazenda insiste que a principal razão para a permanência de Haddad no Brasil é a pauta econômica em votação no Congresso. O ministro aposta que a Câmara dos Deputados pode analisar já na próxima semana o projeto de lei que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000.

O requerimento de urgência para o texto foi aprovado no mês passado, mas o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), adiou a análise em plenário. O motivo foi a prioridade dada a outra proposta: a que trata da anistia de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Haddad, no entanto, acredita que o projeto do Imposto de Renda deve voltar ao centro das discussões nos próximos dias.

Além disso, o ministro também acompanha a tramitação de uma medida provisória que prevê um pacote de aumento de impostos. Editada em junho, a MP entrou em vigor de forma imediata, mas a maior parte de seus efeitos está prevista para começar apenas em 2026. Para ter validade plena, dependerá de referendo do Congresso.

Padilha também não vai

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é outro membro do governo Lula que não deve embarcar para Nova York. Segundo Jamil Chade, do Uol, as condições impostas pelos Estados Unidos foram classificadas pelo Palácio do Planalto como “inaceitáveis” e vistas como um “ato de humilhação”, embora tenha conseguido um novo visto após a suspensão inicial determinada pelo governo de Donald Trump.

O impasse começou quando Trump acusou Padilha de ter ajudado, no passado, médicos cubanos a atuar no Brasil por meio do programa Mais Médicos. Essa justificativa levou à suspensão do visto do ministro, além do de sua esposa e filha. Após um mês de negociações, Washington liberou a entrada do brasileiro apenas nesta quinta-feira (18), mas com limitações de circulação.

Pelo documento, Padilha só poderia transitar em um raio restrito: entre o hotel, a sede da ONU, a missão diplomática do Brasil e a residência do embaixador.

Fontes do Itamaraty afirmaram ao Uol que a constatação interna é de que o ministro não viajará, ainda que tenha acionado a ONU contra a decisão do governo Trump. Padilha pretendia também visitar a sede da Organização Pan-Americana de Saúde, em Washington, mas as restrições inviabilizam a agenda. Oficialmente, o Ministério da Saúde ainda não anunciou a decisão final.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.