
A crise envolvendo o aumento do IOF, rejeitado pelo Congresso e validado parcialmente pelo STF, marcou uma virada na posição política do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Derrotado na Câmara por ampla maioria, o ministro convenceu o presidente Lula a judicializar o caso e obteve decisão favorável de Alexandre de Moraes, que manteve a maior parte do decreto presidencial. A estratégia de confronto, antes vista como desgaste, consolidou Haddad como figura central no governo e deu novo fôlego à sua imagem dentro do PT.
Haddad vinha acumulando críticas por medidas como a taxação do Pix e a tributação das compras internacionais. Chamado de “Taxad” por opositores, reagiu mudando o tom. Em falas públicas e reuniões com Lula, defendeu abertamente a taxação dos super-ricos, dos bancos e das apostas online, os chamados “BBBs”. A narrativa de “justiça tributária” ganhou tração nas redes sociais com vídeos publicitários promovidos pelo PT, que testou e impulsionou o discurso.
O ministro da Fazenda passou a ser visto por aliados como o “homem forte” da agenda econômica e política do Planalto. A vitória parcial no STF foi interpretada internamente como demonstração de força, mesmo diante do revés no Congresso. Com o aval de Lula, Haddad intensificou sua presença em reuniões políticas e articulou com marqueteiros do partido uma nova ofensiva de comunicação, focada na dicotomia ricos x pobres.

No entanto, essa guinada política gerou reações negativas entre empresários e investidores, especialmente da Faria Lima. Antes tratado como ponte entre o mercado e o PT, Haddad passou a ser alvo de críticas por elevar tributos e por não apresentar contrapartidas em corte de gastos. Internamente, no entanto, o governo avalia que o apoio da elite financeira já está comprometido para 2026 e decidiu priorizar a mobilização popular.
Com a melhora na imagem entre eleitores progressistas e a recuperação dos índices de aprovação de Lula após o embate com Donald Trump, o nome de Haddad voltou a circular como possível candidato em 2026. Dentro do PT, cresce a pressão para que ele dispute uma vaga ao Senado por São Paulo, o que ajudaria a barrar o avanço do bolsonarismo e reforçaria o palanque de Lula no maior colégio eleitoral do país.
A movimentação mostra que Haddad, ao trocar o figurino técnico pelo político, ganha terreno dentro do núcleo duro do governo, mesmo que à custa da confiança do mercado.