Haddad é candidato em 2022 assim como Boulos, Dino e Ciro, mas assumiu antes. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 8 de fevereiro de 2021 às 7:54
Fernando Haddad. Foto: NELSON ALMEIDA / AFP)

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Por Luis Felipe Miguel

É óbvio que Haddad é candidato potencial à presidência em 2022. Assim como Boulos é. E Flávio Dino. E Ciro Gomes.

Alguns optam por assumir a candidatura desde logo, outros preferem não. Tem a ver com as circunstâncias de cada um. Mas todo mundo que acompanha a política brasileira, mesmo de longe, sabe que são esses os nomes. E todos eles agem de maneira a viabilizar essa pretensão. Isso é normal, é da política.

Podemos sonhar com uma política em que a ambição pessoal esteja banida. Mas não deixará de ser sonho. O importante é que essa ambição não turve os compromissos de fundo, não opere contra um projeto que deve ser maior, muito maior que ela. Dos quatro nomes que citei no começo, só um, até onde posso ver, não cumpre esse requisito.

Não é a existência ou inexistência de nomes na rua que atrapalha a construção de uma unidade da esquerda. Atacar Haddad por causa de uma frase numa entrevista me parece, francamente, uma besteira. Ou, em alguns casos, uma hipocrisia: gente que lançou Boulos à presidência no dia seguinte à derrota dele nas eleições paulistanas agora se escandaliza com a “precipitação” de Haddad.

De resto, é equivocado – e ilusório – atrelar a unidade da esquerda a uma coligação nas eleições presidenciais. Por motivos diferentes, mas igualmente legítimos, tanto PT quanto PSOL dificilmente deixarão de ter candidatos próprios. Além de Ciro, é claro.

O PT é o maior partido da esquerda, o único partido brasileiro que colocou seus candidatos entre os dois primeiros em todas as eleições presidenciais desde a redemocratização, conta com a força de Lula e o próprio Haddad teve 47 milhões de votos em 2018. É natural que um partido desse porte tenha candidato próprio.

O PSOL luta por estabelecer um espaço político à esquerda do PT. Trilha o estreito caminho que lhe permite manter essa identidade na conjuntura de brutal retrocesso no Brasil, que tende a amassar toda a esquerda derrotada num mesmo amálgama. A candidatura presidencial é importante por isso.

E, mais diretamente, sem candidato próprio que puxe a identificação do eleitorado, o PSOL corre o sério risco de não superar a cláusula de barreira, o que dificulta enormemente sua sobrevivência como partido. Em 2018 ele passou raspando – e para 2022 o sarrafo será elevado.

O que é preciso é unidade na luta, nas ruas. E que os candidatos, que certamente serão diversos, sejam capazes de entender que estão no mesmo campo, a despeito das diferenças, evitando agressões desnecessárias e garantindo empenho total no segundo turno. O auê artificialmente criado em torno do não-fato político que foi a “revelação” de que Haddad é potencial candidato não ajuda nada nessa direção.