Haddad é Lula e Lula é Haddad: esta é a força que impulsiona a candidatura do PT. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 18 de setembro de 2018 às 22:52
Eles

Fernando Haddad é Lula, Lula é Haddad. Esta é força que levará o ex-prefeito de São Paulo para o segundo turno das eleições. O resto é conversa, e haverá muita conversa até o dia 7 de outubro.

Serão palavras vazias. De concreto, o que as pesquisas revelam.

Em uma semana, Haddad passou de 8 para 19 pontos na consulta do Ibope, e deve crescer mais, à medida que seu nome ganhar maior identificação com Lula.

O ex-presidente tinha quase 40 pontos nas pesquisas quando o Tribunal Superior Eleitoral, desrespeitando resolução da ONU, cassou sua candidatura.

Haddad, já isolado no segundo lugar, tem ainda um campo enorme para ocupar, e é isso que inevitavelmente vai ocorrer.

Ciro Gomes, Alckmin e Marina, penduricalhos nesta eleição, não vão deslanchar, e não por falta de currículo ou biografia.

Mas porque estão desconectados do Brasil real.

Haddad/Lula é um movimento pelo resgate do que o golpeachment (para usar uma expressão do sociólogo Jesse Souza) tirou do Brasil.

Já Bolsonaro/militares é um opção pela autocracia, a redução de direitos em nome de uma suposta garantia da ordem.

Alckmin teria alguma chance se o projeto econômico de Michel Temer tivesse dado certo.

Ciro talvez tivesse êxito se não tivesse ficado na metade do caminho.

Ele poderia ter sido o herdeiro dos votos de Lula, mas escolheu um discurso ambíguo. Não ficou nem de um lado, nem de outro.

Marina Silva morreu politicamente quando abraçou Aécio Neves em 2014. Ela é hoje um corpo político que flutua, à espera da invencível lei da gravidade para estatelar no chão.

Já um homem (ou mulher) com a ideia de seu tempo é invencível.

Lula encarna esta ideia.

Como foi proibido de disputar, transferiu esse patrimônio a Haddad e, nisso, é preciso reconhecer um traço marcante da personalidade de Lula.

Está muito além do discurso a frase que já disse, a de que escolheu lutar, viver por uma causa. Como jornalista, eu cubro as campanhas de Lula desde 1982 e não tinha essa compreensão.

Todos víamos Lula como um político que, na essência, não era tão diferente dos outros. Era (e é) mais habilidoso e com um carisma sem paralelo na sua geração.

Mas foi preciso que um trator se colocasse sobre ele para verificar que seus interesses pessoais estão abaixo do compromisso que tem com um projeto político, no sentido amplo.

Lula talvez nem tivesse sido preso se concordasse, em 2017, com os acenos para que abandonasse a ideia de se candidatar a presidente outra vez.

Lula certamente já estaria em prisão domiciliar, se tivesse concordado com uma articulação de bastidores de Sepúlveda Pertence, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, seu antigo advogado.

Mandou dizer que não trocaria sua dignidade nem pela liberdade, e agora refuta a ideia de que possa ser beneficiado com um indulto.

“Sou inocente e vou provar minha inocência”, repete.

Lula fez de sua prisão o ato político mais importante das últimas décadas, talvez da história do Brasil.

Parece disposto a mostrar a natureza da injustiça cometida contra ele. Não é apenas um erro judiciário, é o resultado de uma orquestração para tentar derrotar um projeto de inclusão social.

Não vejo de outra maneira.

Dom Pedro I abdicou do trono, Dom Pedro II foi mandado para o exílio, Getúlio Vargas se suicidou, e Lula, teimosamente, se mantém de pé, desgastando com sua resistência seus algozes e mostrando que aqueles que o perseguem têm como alvo não apenas ele, mas a nação brasileira — pelo menos o projeto de nação que ele representa.

É o que explica a ascensão de Haddad, ele mesmo um político que é, ao mesmo tempo, co-autor e resultado desse projeto. Um herdeiro político, não do caudilhismo, mas de um projeto de país.

Se Lula tivesse dado ouvido a analistas políticos e levasse em consideração editoriais da velha imprensa, bem como o que diziam as velhas raposas da política, Haddad não estaria agora se encaminhando para o segundo turno — e se chegar ao nível em que estava Lula, pode até levar no primeiro.

A velha imprensa vai ficar cacarejando sobre indulto, enquanto Haddad ganhará densidade e os concorrentes se desidratarão.

Os jornalistas ainda não perceberam que o projeto de Lula é maior do que ele próprio. E que Haddad não é um poste, mas alguém que recebeu o bastão e vai continuar na maratona.

.x.x.x.

Haveria alguma chance de Haddad ficar pelo caminho se ele não tivesse se dado conta de que é o cara certo na hora certa. Na entrevista ao Jornal Nacional, na semana passada, parecia nervoso nos primeiros minutos, mas depois se encontrou e hoje, quando foi sabatinado pela CBN/G1, estava muito à vontade. Tão à vontade que disse, na casa da Globo, que vai mexer no vespeiro dos meios de comunicação.