Hamburgo na vida dos Beatles

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 12:22
Cena de Backbeat

No início da carreira, antes de estourarem, garotos ainda, os Beatles foram duas vezes a Hamburgo, na Alemanha.

Tocavam madrugada adentro, à base de pílulas que os mantinham acordados, em bares baratos de uma região dominada por bêbados e prostitutas.

Foi um período rico para eles. As horas copiosas no palco acabaram servindo para que eles praticassem, praticassem e ainda praticassem.  A perfeita harmonia no palco entre Paul, John e George – Ringo ainda não estava no grupo – foi esculpida, em boa parte, em Hamburgo.

É essa fase que a peça Backbeat focaliza. Ela é baseada no filme homônimo dos anos 90, e acabou de entrar em cartaz em Londres, no Duke of York’s, um teatro centenário no West End, onde se concentram os grandes musicais da cidade.

O teatro Duke of York’s em 1900

Não foi apenas na música que Hamburgo foi importante para os Beatles. Lá eles conheceram uma jovem e linda fotógrafa alemã, Astrid Kircherr, que faria as fotos definitivas e históricas dos garotos pouco antes de estourarem.  Astrid foi quem mexeu no cabelo deles e lhes deu a franja com a qual se consagrariam. E ela acabou se apaixonando pelo baixista, Stu Sutcliff. Stu, muito mais pintor que músico, acabaria ficando em Hamburgo com ela, para imensa tristeza de John, que o admirava intensamente como artista. Para os Beatles, a saída de Stu – tão precário no baixo que tocava de costas para o público – foi vital. Paul acabaria trocando a guitarra pelo baixo, e o resto é história.

Stu foi a primeira tragédia beatle. Ele tinha dores horríveis na cabeça. Numa crise, acabaria morrendo, pouco depois de seus amigos lançarem o primeiro single, Love Me Do. No recente documentário de Scorcese sobre George Harrison, Astrid conta que John foi visitá-la em Hamburgo, e pediu para ver o aposento em que ele pintava. John se sentou num banco, visivelmente emocionado, e George ficou por perto dele, como para ampará-lo. Astrid registrou a cena, e a foto está no documentário sobre George. Encontrei-a no Google, e você pode vê-la abaixo em sua imensa dramaticidade em preto e branco.

Astrid fotografou John e George no aposento em que o amigo morto Stu pintava, em Hamburgo

Não havia propriamente surpresa na peça para um beatlemaníaco do meu tipo, mas ainda assim foram quase duas horas de alegria. Gosto particularmente da primeira fase dos Beatles, quando a música deles era irresistivelmente ingênua, e quando eles pareciam genuinamente felizes ao tocar.

Depois o tempo chegou e fez com eles o trabalho habitual de ceifar sonhos.

A música do grupo se sofisticou, mas a alegria do começo se perdeu. Backbeat recria um momento único, em que os meninos de Liverpool tocavam horas não por compromissos comerciais – mas por pura paixão. Por isso é uma peça que tem que ser vista.