“Harry é um covarde patético”

Atualizado em 29 de janeiro de 2013 às 20:50

O príncipe se gaba das mortes que causou no Afeganistão e provoca uma intensa indignação

Campeão de videogame no Afeganistão
Campeão de videogame no Afeganistão

O príncipe Harry voltou de uma temporada de quatro meses no Afeganistão, onde era co-piloto atirador de um helicóptero Apache. Harry serviu no sul da província de Helmand, tida como um reduto talibã. Teria voado em dezenas de missões, disparado foguetes e mísseis e manejado um canhão de 30 mm. O Capitão Wales, como era chamado na base, deu uma entrevista coletiva na volta, em que falou sobre o episódio de suas fotos nu em Las Vegas, a excitação de ser tio e, principalmente, suas aventuras no exército.

“Muita gente matou insurgentes”, disse ele. “Se há gente tentando fazer algo de ruim aos nossos caras, então nós vamos tirá-los do jogo”. Quantos ele matou, não faz ideia. Mas que diferença isso faz? “Às vezes, é preciso tirar uma vida para salvar uma vida. É disso que se trata, suponho”.

Um porta-voz do Talibã retrucou que Harry é um “covarde patético”. “Se ele fosse um guerreiro com o mínimo de dignidade, não se gabaria assim.” O ex-oficial Charles Heyman, que edita um anuário sobre as forças britânicas, disse que suas palavras poderiam aumentar ainda mais o nível de risco em torno dele. “Ele virou um alvo preferencial”.

Terceiro na linha sucessória, Harry gosta de dizer que, no exército, ao contrário do que acontece em sua vida social, ele é apenas mais um. Os tabloides publicaram fotos gloriosas de Harry na caserna. Lá está ele jogando PlayStation com os colegas de farda, numa boa. Educado em Eton e morador de palácios, Harry dividia um contêiner convertido num bloco de alojamento com outros homens. Podia sair para passear nas proximidades da base para frequentar a academia ou lavar a roupa.

A caminho do helicóptero Apache
O matador: a caminho do helicóptero Apache

Ele pode dizer que era mais um, mas é mentira. Harry já havia servido no Afeganistão em 2008 e foi retirado de cena numa situação até hoje mal explicada (ele teria sido ameaçado por um líder talibã). Sempre quis voltar. É bom para sua imagem e a da família real. O custo do governo para mantê-la é estimado em 70 milhões de dólares por ano. Eles recebem diretamente perto de 8 milhões. O resto é para as propriedades, a segurança etc. Antes de Harry, o tio dele, Andrew, fora o único dos Windsor a ir para a frente de batalha (nas Malvinas).

Não deve ser fácil ser soldado e príncipe, mas, provavelmente, é mais difícil para os afegãos. O Apache é uma das mais impressionantes máquinas de guerra jamais inventadas. Nos últimos cinco anos, apenas quatro deles foram abatidos. Nem todo o mundo vai para a guerra com toda essa leveza de alma de Harry. Há 9 mil tropas britânicas no Afeganistão, que devem se retirar até 2014. O número de mortos é de 440. Nas linhas talibãs, foram 7 mil baixas. Segundo a ONU, em 2011 3 mil civis afegãos foram mortos.

“Eu sou uma daquelas pessoas que gostam de jogar PlayStation e Xbox. Com os dedões, acho que sou bastante útil. Você pode perguntar pros caras: eu arraso com eles no jogo Fifa”. Fica explicada, então, a razão por que o Capitão Wales é tão impreciso e blasé com relação aos inimigos que abateu a bordo do Apache com seu joystick. Para ele, é a mesma coisa que um game. Ele só precisa apertar o gatilho e um abraço. E se não forem insurgentes? Dane-se. Ele ainda volta para casa como heroi e orgulho da nação para milhões de pessoas que acreditam num conto de fadas estúpido e anacrônico.

Um homem de ação
Um homem de ação