Havendo resposta popular à convocação de Bolsonaro, militares podem intervir, diz cientista política

Atualizado em 3 de março de 2020 às 11:29
Jair Bolsonaro e os militares. Foto: PR

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR MARIO MARONA

A Folha entrevistou a cientista política Argelina Figueiredo e cometeu a façanha de escolher para o título a maior obviedade possível: as manifestações governistas do dia 15 fortalecerão ou enfraquecerão Bolsonaro.

Mas há boas declarações, ignoradas pelo jornal na abertura da matéria. Vejam:

Bolsonaro é um agente provocador, como mostra desde o início do governo. Subestimamos o perigo que ele representa desde as eleições de 2018, quando muitos achávamos que não venceria. Mas há um risco grande de ele se transformar num pequeno ditador.

Ele se cerca de generais no Palácio do Planalto e afaga suas tropas, as polícias estaduais, os escalões inferiores do Exército. Acho que ele está fazendo isso para contar com os militares como bombeiros para defendê-lo se houver alguma iniciativa para tirá-lo do poder.

Num cenário que classifico como catastrófico, mas que parece plausível, o presidente pode incitar as pessoas e provocar o caos para que os militares intervenham para manter a ordem.

Por outro lado, a maioria do Legislativo é a favor da política econômica proposta pelo governo. E o mercado, que dá sustentação a essa política, que apoiou Bolsonaro na eleição e segue apoiando o governo, tem pouco apreço pela democracia, porque está mais preocupado com os resultados da política econômica.

Se houver uma resposta popular à convocação do presidente, há um risco de os militares intervirem para garantir o poder de Bolsonaro.