He visto a Messi – e vi por que a Argentina pode repetir 1986

Atualizado em 26 de junho de 2014 às 17:29

O BRASIL POR AÍ

Captura de Tela 2014-06-26 às 17.10.51

A Forbes acha que o Brasil poderia usar a Copa do Mundo para comemorar tudo o que conquistou, economicamente, nos últimos anos. (Fato. Só que o carro perdeu velocidade e descobrimos que aquele velho problema na repimboca da parafuseta – atrasos, superfaturamento, leniência, corrupção, ineficiências – continua vivíssimo. Esse detalhe, fundamental para entender o humor brasileiro, escapou à materia, que diz o seguinte: “Ainda que seja fácil pontuar os caros estádios construídos para a Copa e a longa lista de bilionários e contrast-los com os milhões de brasileiros que ainda em extrema pobreza, essas comparações falham ao não reconhecer o tremendo sucesso que os dirigentes brasileiros tiveram em erradicar a pobreza ao longo da útima década. De acordo com um relatório recente do Center for the Latin America and Caribbean (ECLAC), das Nacões Unidas, em 2005 38% da população brasileira vivia abaixo da linha de pobreza. Em 2012, esse percentual já havia caído para 18,6%. Em outras palavras, desde 2005 o Brasil efetivamente reduziu o número de seus cidadãos vivendo na pobreza em mais da metade.

O The New York Times continua cobrindo o Brasil, nessas última semanas, mais do que fez provavelmente em anos. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul foram objeto de uma análise sociológica interessantíssima, no artigo Beautiful Game Played With a Gaúcho Flair in Southern Brazil, ou algo como “O jogo bonito jogado com um toque gaúcho no Sul do Brasil – um jeito mais sério de jogar futebol”.  A matéria discute de modo bastante acurado por que os gaúchos se sentem tão diferentes dos demais brasileiros – e muitas vezes mais próximos dos uruguaios e dos argentinos do que de um maranhense ou de um goiano.

Não satisfeito em auscultar a alma gaúcha, o New York Times mergulhou também no espírito de Brasília: Brasília, a Capital City That’s a Place Apart – a Distinctly Un-Brazilian City, ou “Brasília, a capital que é um lugar à parte, quase uma cidade não brasileira” . O bom artigo do New York Times conduz a uma questão provocativa: será que a ideia de Brasil contida em Brasília representa uma resposta à ideia de Brasil contida no Rio, a velha capital? Bela tese.

E até a Esquire, novaiorquina e chiquérrima, caiu de amores por, veja só, Fred.  Our favorite World Cup player: a guy named Fred, ou “Nosso jogador de Copa do Mundo favorito: um cara chamado Fred”. Quando a Esquire se encanta com o bigode de Fred, a ponto de lhe dar um perfil, é porque a Copa pegou mesmo, porque o Brasil está na moda e porque “love in in the air” – e o ar está soprando para cá, na direção de Guarulhos ou do Galeão.

Fred na Esquire
Fred na Esquire

Some tudo isso, toda essa mídia espontânea, e valoremos todo esse espaço e essa atenção – na maioria dos casos, positiva – que o Brasil está recebendo. Quanto está custando essa exposição a gente já sabe. O número não é baixo. Mas a pergunta que fica é: quanto vale essa exposição? O número certamente também não será baixo. Assim como todos os novos influxos financeiros que o país poderá receber depois da Copa, com a desmitificação de uma série de medos que havia em relação ao Brasil entre os turistas internacionais.

O FUTEBOL POR AÍ

Enquanto o humorista Will Farrell faz aparição especial num bar em Recife, conclamando a torcida americana a acreditar na vitória, que de certa forma se apresentou hoje na forma de uma derrota contra a Alemanha que ainda assim permitiu à seleção americana avançar às oitava de final, começou a circular nas redes um polêmico artigo da colunista americana Ann Coulter, publicado pelo jornal Clarion-Ledger, do Mississipi. De uma clareza brutal sobre como os conservadores americanos veem o futebol, Ann, “conhecida por causar controvérsias com seus artigos conservadores, defendendo o Presidente George W. Bush, o ex-senador Joseph McCarthy, o bombardeio à Coreia do Norte e atacando a teoria da evolução, a masturbação masculina, a homossexualidade, os direitos civis e os muçulmanos”, nos presta esse serviço como polemista: ela declara o que outros americanos de direita apenas pensam mas não tem coragem de expressar sobre um esporte que, entre outras coisas, é considerado “estrangeiro” e não “americano”.

Apesar da resistência red neck, nunca o futebol, ao que parece, esteve tão perto de se tornar mainstream nos Estados Unidos. O duro é que na hora em que os americanos entraram no mercado do futebol para valer, todas as outras grandes divisões do mundo, exceção feita, talvez, a alguns poucos clubes europeus, vão perder talentos a rodo. A criação de uma liga de futebol realmente forte no EUA mudará muito o mercado da bola. O mercado será inflacionado, num primeiro momentos. Placas tectônicas políticas e econômicas, relativas ao esporte, se moverão. Eixo e fluxos mudarão de lugar. As crianças americanas, com talento para o esporte, que hoje migram para carreiras mais promissoras do ponto de vista econômico, poderão finalmente considerar o “soccer” como uma alternativa competitiva. Num país que cultua o esporte e a competição, e com uma população de mais de 300 milhões de habitantes, os Estados Unidos se tornarão rapidamente uma das potências futebolísticas. Basta decidirem que, sim, querem.

O BRASIL POR AQUI

Basta viajar um pouquinho pelo Brasil para perceber que a questão do subdesenvolvimento em nossas cidades é simplesmente o quão longe estão as favelas. Mas elas sempre estão lá. O Castelão, um estádio high tech do século 21, e seu entorno, vivendo ainda nas entranhas pré industriais do século 20, é apenas uma das opções desse contraste chocante entre os dois Brasis que nos habitam. Concordo que um país rico é um país sem pobreza – o slogan do governo federal. E entre nós ainda há muita.

Outro ponto interessante é que os gringos parecem ter muito menos medo das favelas do que nós. Elas se jogam no churrasquinho, nos lanches baratos, na primeira cerveja gelada que houver. Talvez por não compreender tão bem como funciona a nossa fissão social, eles consideram que tudo isso é Brasil – ou que aquilo é que é Brasil – e vivem a experiência completa, de peito aberto.

GO AFRICA!

Com Jude e Swami
Com Jude e Swami

Eu torço sempre pelos africanos. Desde Roger Milla, Tataw, Biyik, Nkono. Depois com Kanu, Okocha, Diouf e cia. Camarões, Costa do Marfim. África negra. Torci muito por Gana – inclusive presencialmente, no jogaço contra a Alemanha em Fortaleza. Não deu. Ainda resta Nigéria. Bora, galera. Go for it.

HE VISTO A MESSI

Beira Rio azul
Beira Rio azul

Estive ontem no Beira Rio, para a minha segunda partida de Copa do Mundo. Partindo e voltando a São Paulo no mesmo dia. De novo, uma experiência tranquila. Tudo funcionando muitíssimo bem.

Num Beira Rio pintado de azul – cores da Fifa e da Argentina – uma mesa de operações mais ou menos assim: argentinos e gremistas torcendo pela Argentina – 90% dos 25 mil hinos maravilhosos dos hermanos compostos especialmente para essa Copa com temas antibrasileiros. Colorados, cujo ídolo é argentino, em menor número em sua própria casa, torcendo pela Nigéria, juntamente com os demais brasileiros. Baita jogo, inclusive nas arquibancadas. No fundo, acho que deu para sacar pela TV, a batalha festiva de uma possível final histórica entre Brasil e Argentina começou ontem no Beira Rio…

E, em campo, Messi, que eu nunca tinha visto ao vivo, mostrou porque, aos 27 anos, com 1,67m e salário anual de 13 milhões de euros, já ganhou três vezes o título de melhor jogador do mundo da Fifa. Messi fez 89 jogos pela seleção argentina, marcando 42 gols. Eis o que vi ontem:

1. Ela joga noutra frequência. Numa velocidade e numa construção de frases próprias. Os demais jogadores tentam entender, correm atrás do seu raciocínio futebolístico.
2. Messi é incrivelmente eficiente. Saiu no meio do segundo tempo da partida contra a Nigéria e, que eu lembre, errou duas jogadas. Para um jogador que é procurado sempre pelos outros 10 do seu time, trata-se de uma taxa de sucesso absurdamente positiva.
3. Messi não apenas não perde a bola, é quase impossível tirá-la dele, como também não sofre faltas. E mesmo quando as sofre, não cai. Messi tem uma capacidade incrível de concluir aquilo que termina.
4. Alguns jogadores estão brilhando nessa Copa. Não se deixaram intimidar pela pressão – ao contrário, estão jogando tudo, no limite, como se essa Copa fosse um afrodisíaco futebolístico. Neymar, Robben, Van Persie, Miller, Klose. Messi puxa a fila. Decidiu os três jogos a favor da Argentina. Dos seis gols argentinos até aqui, Messi fez quatro. Dos restantes, um foi gol contra.
5. Mesmo muito marcado, inclusive pela dependência argentina do seu poder ofensivo, Messi está sempre livre para receber a bola. Ele tem um poder de movimentação e uma inteligência tática impressionantes.
6. Por fim, a Argentina fez seu melhor jogo contra o bom time da Nigéria. Mas vi o que já sabíamos: é outro time, apesar da boa atuação de Mascherano no meio e das boas arrancadas de Lavezzi. É um time comum. E com uma defesa bem vulnerável. Especialmente pelo lado esquerdo de quem está atacando – área de trabalho de Neymar e Robben, por exemplo. Sim, Zabaletta é o Dani Alves deles..