Heleno era “frequente contato” do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, morto hoje aos 92 anos

Atualizado em 31 de maio de 2020 às 21:45
O general Heleno: charme, carisma e sofisticação

O ex juiz Nicolau dos Santos Neto morreu na madrugada deste domingo 31, com suspeita de covid-19, após uma internação por pneumonia.

Nicolau, o Lalau, tinha 92 anos.

Ficou conhecido pela condenação em três processos relacionados a desvios de R$ 170 milhões (mais de R$ 1 bilhão em valores atualizados) das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo na Barra Funda.

Ele era, na ocasião, presidente do Tribunal Regional do Trabalho. Foi condenado a 26 anos e seis meses de prisão.

Em 2018, Janio de Freitas escreveu sobre as relações do general Heleno, ministro-chefe do GSI, com Lalau.

Heleno, lembra Janio, foi “auxiliar do general Cardoso no Planalto de Fernando Henrique”:

Constatou-se então que o general Heleno era o mais frequente contato do juiz Nicolau dos Santos Neto, exclusive familiares. Como o general negasse por escrito, em carta, pude expor aqui a prova de sua ligação com o juiz mais tarde condenado e preso por corrupção, na obra do novo Tribunal da Justiça do Trabalho, em São Paulo.

O SNI estava extinto desde Collor e assim continuava, no dizer de Fernando Henrique. No entanto, Lalau passava ao general Heleno, com presteza sistemática, informações sobre os graúdos paulistas e seus negócios, os políticos, a imprensa.

Entre outros temas. Era a preservação do policialismo, com todos os seus defeitos. E mais um: a falsidade da inexistência de espionagem interna.

Se dado a nostalgias, o general Heleno poderia ser tentado a esclarecer o eleitorado sobre um fato sempre omitido. Seu nome é acompanhado, muitas vezes, de citação ao comando que exerceu da Força brasileira no Haiti.

Sem referência, jamais, a que esse comando foi encerrado bem antes do prazo, por um motivo sem precedente: a ONU pediu que o general brasileiro fosse retirado do comando. A respeito, só ficou registro da chegada do general Heleno, abalado a ponto de chorar. (…)

Embora nenhum se compare à perda da oportunidade de mostrar aos eleitores que Bolsonaro não é único nas ideias e modos, não tem originalidade. É produto que foi fabricado em série.