Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Todos já sabemos qual será o assunto da semana, com debate intenso a partir da manhã desta segunda-feira: quando e como será iniciada a vacinação contra a Covid-19.
Vai se repetir a mesma ladainha. O debate acontece na crença de que em algum momento a vacinação irá acontecer. Mas quando?
O Brasil é retardatário não só no planejamento da vacinação, mas na capacidade de reagir a uma realidade que em qualquer outro país democrático já teria provocado conflitos políticos graves e interferência da Justiça.
O Brasil é retardatário por não aceitar que embarcou na armadilha criada por Bolsonaro. Juristas, cientistas, governadores, prefeitos, deputados e humoristas que viraram influenciadores políticos vão se dedicar esta semana, de novo, ao debate interminável sobre a vacina.
O Brasil debate as incertezas da vacina hipnotizado pelo poder de Bolsonaro. Vamos tentar saber, com os mesmos argumentos, se João Doria pode fazer a vacinação com um plano estadual.
Se Bolsonaro pode mesmo impedir a vacinação de Doria. Se a vacina da CoronaVac será de fato comprada.
Se o Supremo pode cobrar de Bolsonaro um plano de vacinação menos evasivo, depois
Se compraram as seringas. Se Pazuello tem condições de definir a logística para que a vacina (mas qual vacina?) chegue aos Estados.
Pelo menos 80% da população quer a vacina. Mas poucos lutam pela vacina. O povo não tem forças para impor suas vontades desde o golpe de 2016. Só para pedir a abertura de lojas, bares e praias.
Bolsonaro se deu conta de que o povo está inerte e enrolado. E com um povo inerte o Congresso não se mobiliza, porque não há pressão, e o Supremo só morde e assopra. E passa o pano.
As instituições só funcionam se o povo quiser que funcionem. Se não quiser, as instituições nos enrolam.
Por isso o debate que será retomado terá mais do mesmo. Bolsonaro pode até dizer hoje que agora o plano de vacinação será pra valer. E amanhã pode dizer que não tem pressa.
E o Brasil vai se entreter com o que Bolsonaro diz, porque ele é quem pauta o debate. Não há perspectiva de saída.
Haveria se aqui fosse a Bolívia ou o Chile ou a Argentina, que se negam a ser subjugados pela morte e pela própria covardia.