Holanda vive mais uma noite de confrontos contra toque de recolher

Atualizado em 26 de janeiro de 2021 às 10:15
A Holanda foi palco, pela segunda noite consecutiva, de distúrbios contra o toque de recolher noturno imposto no fim de semana para lutar contra a propagação da Covid-19. Foto: Marco de Swart/ANP/AFP

Publicado originalmente no RFI:

A Holanda teve na noite de segunda para terça-feira (26) um segundo surto de violência orquestrado por adversários do toque de recolher, para conter a epidemia de coronavírus. Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden avalia que o país estará próximo da imunidade coletiva até o verão no Hemisfério Norte.

Nas principais cidades holandesas, Amsterdã, Roterdã e Haia, mas também em outras localidades (Amersfoort, Geleen, Den Bosch, Haarlem …), o toque de recolher imposto neste fim de semana, pela primeira vez no país desde a Segunda Guerra Mundial, deu origem a motins. Houve confrontos entre os manifestantes e a polícia e depredações de veículos e empresas.

A partir das 23h de segunda-feira (hora local), mais de 70 pessoas foram presas, de acordo com a televisão pública holandesa NOS.

Na noite de segunda-feira, os prefeitos de várias cidades do país anunciaram que tomariam medidas emergenciais para tentar evitar mais distúrbios. O de Rotterdam, por exemplo, Ahmed Aboutaleb, baixou um decreto autorizando a polícia a aumentar as prisões.

Na noite anterior, a polícia havia prendido 250 pessoas em distúrbios semelhantes em várias cidades. O primeiro-ministro Mark Rutte condenou a “violência criminosa”, dizendo que foram “os piores tumultos em 40 anos”.

Outros confrontos no mundo

Uma reclamação semelhante contra as restrições também surgiu na segunda-feira em Trípoli, grande cidade no norte do Líbano, onde as forças de segurança tiveram de conter jovens manifestantes que almejavam a sede das autoridades locais. A Cruz Vermelha Libanesa registrou mais de 30 feridos. O país estendeu o lockdown rígido até 8 de fevereiro.

No dia anterior, em um distrito de Tel Aviv, em Israel, confrontos opuseram a polícia aos judeus ultraortodoxos que protestavam contra o confinamento. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu elogiou a “mão pesada” da polícia, que prendeu 13 pessoas.

Vacinas versus variantes

A paciência das populações é posta à prova por uma pandemia que, durante um ano, as priva de liberdade. Na França, por exemplo, já sob toque de recolher noturno, a partir das 18h, o governo deve decidir esta semana sobre um possível lockdown, que seria o terceiro no país.

As restrições são mantidas ou estão ficando mais rígidas enquanto a vacinação foi iniciada há um mês: mais de 63,5 milhões de doses de vacinas foram administradas em pelo menos 68 países ou territórios, de acordo com uma contagem da agência AFP.

A Covid-19 matou pelo menos 2,1 milhões de pessoas e infectou mais de 99,1 milhões em todo o mundo, de acordo com um relatório elaborado pela AFP na segunda-feira (25). O México ultrapassou 150.000 mortos na segunda-feira. Os Estados Unidos continuam o país mais enlutado, com mais de 420.000 mortes.

O presidente Joe Biden deu um horizonte na segunda-feira à noite: “Estou confiante no fato de que, no verão, estaremos muito mais próximos da imunidade coletiva”. Questionado sobre a data em que todos os americanos que desejam se beneficiar da vacina poderão fazê-lo, ele respondeu: “na primavera”.

Um raio de esperança apareceu no dia em que a Califórnia aliviou certas restrições, graças a uma ligeira melhora na situação dos hospitais. O estado mais populoso do país havia introduzido medidas no início de dezembro, proibindo reuniões e atividades não essenciais. E no zoológico de San Diego (também na Califórnia), um gorila idoso infectado com uma variante do coronavírus foi tratado com um tratamento experimental, baseado em anticorpos sintéticos.

Nesta terça-feira entra em vigor o teste negativo para Covid-19 obrigatório para todos os viajantes que chegam aos Estados Unidos de avião.

Na Nova Zelândia, a primeira-ministra Jacinda Ardern espera manter suas fronteiras nacionais fechadas “durante a maior parte deste ano”.

O aparecimento e a disseminação de variantes do coronavírus, sabidamente mais contagiosas e possivelmente mais letais, aumentaram o desafio da vacinação. A empresa americana de biotecnologia Moderna, que criou uma das primeiras vacinas disponíveis, anunciou na segunda-feira que sua fórmula se manteve eficaz contra a variante britânica, mas um pouco menos em relação à vinda da África do Sul.

A BioNTech e a Pfizer, fabricantes da principal vacina administrada em todo o mundo, garantiram que o imunizante era eficaz contra a mutação N501Y, observada em particular na variante britânica, e suspeita de a tornar mais contagiosa. Mas seus exames laboratoriais não se concentraram na mutação (E484K) observada especificamente na variante sul-africana.

Ricos e pobres

As campanhas de vacinação também enfrentam atrasos nas entregas, o que é enfurecedor na Europa. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ligou na segunda-feira para o CEO do laboratório britânico AstraZeneca para exigir que ele honre suas entregas.

A Polônia começou a vacinar os maiores de 70 anos na segunda-feira, e lamentou o atraso na entrega das vacinas Moderna. Como a Itália, o país ameaçou com ação legal na semana passada se a Pfizer, também atrasada, não cumprisse seus compromissos.

A lacuna da vacina entre ricos e pobres está aumentando e preocupa a OMS, que precisa de US$ 26 bilhões para seu plano que acelera o acesso a ferramentas para lutar contra a Covid-19.

Grécia

Junto com a vacinação, a esperança também pode ser encontrada no tratamento. Nesse sentido, a Grécia deu luz verde na segunda-feira para a prescrição da colchicina, após um estudo canadense sobre os resultados positivos desse antiinflamatório.

Além disso, a polícia grega anunciou, nesta terça-feira (26), que todas as reuniões serão proibidas por uma semana por razões de “saúde pública”, justo quando uma manifestação da esquerda radical está prevista para esta sexta.

“Todas as reuniões de mais de 100 pessoas nas vias públicas estão proibidas até 1º de fevereiro”, disse a polícia, em um comunicado. A polícia negou que a decisão se deva aos protestos planejados.

Na sexta-feira, foi convocada uma manifestação em apoio ao chefe do grupo extremista de esquerda 17 de novembro, Dimitris Kufontinas, que iniciou uma greve de fome no início do mês para solicitar sua transferência para outro presídio.

O lockdown na Grécia foi flexibilizado em 18 de janeiro, e as empresas puderam reabrir suas portas. As escolas de ensino médio também serão reabertas na próxima semana.

O movimento entre as regiões ainda é restrito. Os moradores podem deixar suas casas apenas por razões plenamente justificadas. O coronavírus já deixou mais de 5.600 mortos no país.