Hollywood Vampires mostra que ainda é possível se divertir neste mercado movido por sucesso a qualquer custo. Por Emir Ruivo

Atualizado em 24 de setembro de 2015 às 23:35
Uma parede em algum lugar de Los Angeles em algum momento dos anos 70
uma parede em algum lugar de Los Angeles em algum momento dos anos 70

 

 

Há 16 anos, quando eu pela primeira vez toquei profissionalmente, falava-se muito pouco no que iria funcionar para o mercado e muito sobre o que se queria fazer. Hoje, o panorama é o oposto. A preocupação com o mercado é constante. Faz-se quase nada sem considerar os benchmarks.

Essa é a razão do diagnóstico que Billy Paul fez em entrevista ao Virgula há pouco mais de um mês: de que as músicas estão cada vez mais parecidas.

Às vezes é um movimento de sobrevivência. Eu fui engenheiro de som da última passagem de Billy no Brasil e pude bater uns papos com esse simpático e genial senhor. Perguntei para ele por quê, no show inteiro, ele não tocava as músicas de seu álbum “War Of The Gods”, seu segundo disco. Este é um disco realmente de vanguarda em que, já em 1973, Billy conversa com a música eletrônica, que foi começar a aparecer para o mundo dez anos depois e se popularizar, vinte à frente.

Ele respondeu sem titubear que “as pessoas querem ouvir Mrs. Jones, Your Song, July, Strong Survive…” Quer dizer, paradoxalmente, ele mesmo acaba tendo que se render a essa tendência.

Nesse panorama, Hollywood Vampires, que acabou de fazer um belo show no Rock In Rio, tem a atitude oposta. Tocou vários não-hits, de John Lennon a T Rex, por motivação aparente de exclusivo prazer.

setlist do Hollywood Vampires no Rock In Rio
setlist do Hollywood Vampires no Rock In Rio

Talvez por ser uma all-star band, ela possa fazer isso. Quem sabe se Billy Paul se juntasse a Gloria Gaynor, Al Green e Aretha Franklin fosse capaz de mandar tudo mais para o inferno e tocar músicas do Itamar Assumpção e do Carlos Dafé.

De qualquer forma, é gostoso ver gente que por um ou outro motivo tem coerência artística, toca o que sente vontade, não toca o que não sente e ponto final.

O Hollywood Vampires faz menção a um grupo de amigos que se formou nos anos 70, aparentemente para beber, se estiverem certos Multishow e Wikipedia. Há uma foto postada no começo do artigo que sugere que Keith Moon e John Lennon eram membros. Significa que a coisa é bem antiga.

Cooper então formou uma banda com Joe Perry do Aerosmith na guitarra, Mathew Sorum do The Cult na bateria, Duff McKagan dos Guns & Roses no baixo, o ator Johnny Depp na guitarra e alguns outros músicos de apoio da banda de Alice Cooper.

Cooper é sempre o mesmo. Já o vi duas vezes ao vivo e desta vez pela TV. Parece que não envelhece, não exatamente por parecer jovem, mas por que parece o mesmo velho há 20 anos – um velho muito estiloso, dono do palco, mestre em comandar o show e se conectar com a plateia. Um grande frontman, sem contar que é um cantor muito competente.

Perry é também o mesmo, um grande guitarrista que sabe compor o palco, sabe onde estar, onde não estar, quando tocar, quando não tocar.

Sorum é também um grande baterista, com domínio absoluto do tempo e da situação. Zak Starkey, também espetacular, o substituiu em uma música e posteriormente o acompanhou em outras. Sua participação me parece que tem um valor duplo para Cooper: de fazer menção a dois membros do grupo, Ringo, pai de Zak, e Moon, a quem Zak substituiu no The Who.

Andreas Kisser também fez uma ótima participação na guitarra de School’s Out. E Duff é muito competente como baixista. Foi meio torto no solo de baixo de “My Generation”, mas também quem não seria.

Agora, surpresa foi Johnny Depp. Toca bem. Bem mesmo. Um tanto gorducho, Depp fica um pouco perdido no palco. No final, parecia cansado. Não tem o cacoete de administrar a energia. Mas é um excelente guitarrista com sua roupa de Jack Sparrow.

E então o show seguiu com a ótima Queens Of The Stone Age e, já que o mundo está meio louco mesmo, a pretensiosa, adolescente e mediana System Of a Down fechando a noite.

da esquerda para a direita: Johnny Depp, Alice Cooper e Joe Perry
da esquerda para a direita: Johnny Depp, Alice Cooper e Joe Perry