Homem que revelou ter recebido para simular ataque a Guaidó já foi preso por tráfico de drogas. Por Fania Rodrigues

Atualizado em 6 de março de 2020 às 11:59
A foto da suposta tentativa de assassinato de Guiadó, distribuída por sua equipe à mídia

POR FANIA RODRIGUES, de Caracas

O líder opositor venezuelano Juan Guaidó denunciou que foi vítima de um atentado, no estado venezuelano de Lara, durante um ato político no último sábado.

“Meu carro recebeu pelo menos nove disparos de balas”, disse, durante uma transmissão ao vivo, via redes sociais no sábado a noite.

Nesse dia foram publicadas apenas três fotos pela agência de notícias AP, dos Estados Unidos, em que aparece o momento exato em que um homem armado aponta uma pistola para o deputado Juan Guaidó, que estava na rua cercado por assessores.

No entanto, a agência informou também que as fotos foram repassadas pela equipe de Guaidó e que a AP não esteve no ato político. Não existem vídeos, nem fotos do público, nem de jornalistas que cobriam o evento.

O caso sofreu uma reviravolta quando Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) identificou e prendeu o homem acusado de apontar a arma para o deputado venezuelano.

Em depoimento, Climaco Medina afirmou que não se tratou de um atentado e que, na verdade, foi contratado por assessores de Juan Guaidó “para assustar as apoiadores que participavam da marcha”.

Ele afirma que teria recebi 400 dólares para fingir o ataque à marcha de Guaidó.

“Me procuraram e me perguntaram que queria ganhar um dinheiro. Perguntei o que tinha que fazer. Então me disseram que Guaidó iria a Lara no dia seguinte e que andava buscando motoqueiros para fazer um trabalho. E eu disse que sim”, revelou.

Medina é morador de uma pequena cidade chamada Cabudare, no interior do estado Lara, e tem três passagens pela polícia. Foi preso pela primeira vez em 2009, por porte ilegal de armas e liberado poucos meses depois.

Em 2015, foi por resistência a averiguação policial e em 2018 voltou à prisão, acusado de tráfico de drogas.

Assim relata os fatos:

“No sábado de manhã fui encontrar com o Chicho [apelido de outro motoqueiro acusado de participação no mesmo crime] e no lugar do encontro apareceu outro senhor. Ele disse que o que eu tinha que fazer era assustar as pessoas. Tirou um revólver e me entregou. Eu tinha que apontar para as pessoas, assustá-las e apontar a arma para Juan Guaidó”, declarou.

Guaidó acusou a movimentos sociais chavistas, conhecidos como “coletivos”, de promover o ataque contra ele e seus seguidores.

Mas a escassez de imagens gerou suspeita e a história foi um dos temas mais comentados nas redes sociais da Venezuela esta semana, já que se tratava de um evento político, com público e imprensa.

 

 

O jornalista Anderson Piña Pereira foi um dos profissionais a cobrir o evento e não tem nenhuma imagem dos supostos ataques, apenas de pessoas correndo durante uma confusão.

“Aqui tenho fragmentos de imagens do que aconteceu em Barquisimeto (capital do estado Lara), durante a visita de Guaidó. As pessoas narram o que aconteceu e também aparece motoqueiros encapuchados”, diz o jornalista.

Depois mostra declarações de dirigentes opositores afirmando que tratou-se de ataque contra o líder opositor venezuelano

 

O especialista em segurança da internet Luigino Bracci Roa analisou as fotos publicadas pela equipe de Guaidó.

“Os guarda-costas de Guaidó não reagem quando olham para o homem com a pistola apontando para ele. Guaidó deveria ter sido retirado imediatamente do local. Não o fizeram por incompetência ou porque o homem armado não era uma ameaça real”, analisa Roa.

Para o ministro de Comunicação da Venezuela Jorge Rodríguez foi um “falso ataque”.

“A verdade é que Juan Guaidó está desesperado, porque o que prometeu ao presidente da Colômbia, Ivan Duque, e aos Estados Unidos, não pode cumprir. Por onde ele passa encontra ruas vazias e rechaço”, disse Rodríguez, nessa quinta-feira, em entrevista coletiva.

O líder opositor Juan Guaidó não comentou essas últimas revelações feitas pela equipe de investigação do caso.