Hugo Motta achou que poderia ser uma tartaruga voadora. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 13:43
Hugo Motta, presidente da Câmara. Foto: reprodução

O valente é muitas vezes o sujeito que acredita na força que não tem. Nos pequenos e nos grandes gestos individuais e coletivos da humanidade, esse personagem sempre esteve presente. É uma lição básica para estudantes da terceira série.

O problema é quando a valentia do mais fraco se junta a erros grosseiros de avaliação por deficiências outras. Hugo Motta achou, como estagiário da Câmara em posição de comando, que seria um líder a serviço das sacanagens da velha direita e admirado pelo novo fascismo.

Motta levou a sério, por ter sido empurrado para a guerra, uma força que não tem. Por ser imaturo, por falta de traquejo, pela arrogância dos trainees e porque seu inspirador se chama Arthur Lira.

Lira, um valente que escapou de vários cercos recentes do sistema de Justiça, achou que, se ficou impune, agora é inalcançável. Passou essa empáfia para Hugo Motta, que vai se dando conta do seu tamanho.

Tanto que Motta chamou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, para uma conversa. Não no seu gabinete, nem num restaurante de Brasília, para que todo mundo ficasse sabendo.

Chamou Lindbergh à residência oficial do presidente da Câmara. O petista havia ameaçado com uma campanha para que Motta fosse derrubado, depois de o aprendiz ter cometido desatinos em sequência.

Chamou Guilherme Derrite para sabotar o projeto da área de segurança de Lula e pautou a redução das penas para os golpistas.
Motta não convocou Derrite para o serviço sujo porque essa era uma ideia sua, mas porque se submeteu às ideias e às maldades de Tarcísio de Freitas e da extrema direita no Congresso.

O deputado Guilherme Derrite – Reprodução

Assim como tentou agradar o bolsonarismo e também a velha direita e, ao mesmo tempo, afrontar o governo, Lula e o Supremo com a anistia disfarçada de dosimetria.

O que vai resultar dessa e de outras conversas? Motta vai calibrar suas ações, para que não aconteça o impensável, que até pouco tempo certamente ele não levaria a sério. Pode ser fragilizado e até continuar no cargo, mas dependurado num arame farpado.

O paraibano é apenas uma das tartarugas que subiram nos postes da política brasileira nos últimos anos. É uma das mais ingênuas e por isso mesmo a que achava que, além de subir em postes, poderia voar.

A Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo podem dizer a Motta o que já disseram a outros parceiros dele na direita antiga e na direita nova.

Motta é tartaruguinha de espécies do século 20, descendente da velha Arena, mas pode ser alcançada, por descuidos, como aconteceu agora com Sóstenes Cavalcante, uma tartaruga do bolsonarismo. Muitas tartarugas só têm descido de postes com a ajuda da Polícia Federal.

Originalmente publicado no blog de Moisés Mendes