
Em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrenta uma escalada de pressões políticas dez meses após assumir o cargo. Nos últimos dias, ele passou a ser alvo simultâneo de críticas da esquerda, da direita e do próprio governo federal, em meio a uma crise institucional agravada por decisões do Congresso e ações do Judiciário. Com informações de Vera Rosa, do Estadão.
O desgaste ganhou novo fôlego após a operação da Polícia Federal realizada nesta sexta-feira (12), que aprofundou o atrito entre Câmara, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. A investigação envolveu emendas parlamentares e atingiu a ex-assessora do presidente da Casa antecedente a Motta, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
As diligências foram autorizadas pelo ministro do STF Flávio Dino e incluíram busca, apreensão e quebra de sigilo da servidora Mariângela Fialek, conhecida como Tuca. Ela atuou como braço direito de Lira, padrinho político de Motta, durante sua gestão na presidência da Câmara. Atualmente a investigada é assessora a liderança do PP, o que ampliou o impacto político da operação.

O ambiente já estava tensionado após a aprovação, pela Câmara, de um projeto que reduz penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro. A votação ocorreu em sessão tumultuada na madrugada de quarta-feira, 10, e motivou a convocação de protestos nacionais por partidos de esquerda, movimentos sociais e artistas.
O episódio foi precedido por um confronto no plenário envolvendo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que ocupou a cadeira da presidência da Casa em protesto contra a ameaça de cassação de seu mandato. Ele foi retirado à força pela Polícia Legislativa, em meio a agressões a parlamentares e jornalistas, o que aumentou a pressão sobre Motta.
A condução desses episódios levou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), a pedir publicamente a renúncia do presidente da Casa. Segundo o deputado, Motta tem pautado votações que colocam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em situações delicadas, como a derrubada de decretos e a tramitação de propostas consideradas hostis ao Planalto, afirmou ao Estadão.
Nos bastidores, Arthur Lira também demonstrou insatisfação com o sucessor. Desafeto de Glauber Braga, o ex-presidente da Câmara defendia a cassação do deputado e responsabilizou Motta pelo fracasso da votação. Integrantes do PL, partido de Bolsonaro, também acusam o atual presidente da Casa de não cumprir promessas relacionadas à anistia.
Diante desse cenário, o governo passou a temer reflexos negativos na agenda econômica. A aprovação do Orçamento e de projetos que reduzem benefícios fiscais é vista como essencial para o equilíbrio das contas públicas de 2026, enquanto líderes partidários reclamam do atraso no pagamento de emendas e apontam deterioração do ambiente político no Congresso.