
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, empregou em seu gabinete três mulheres com ocupações incompatíveis com o cargo de secretárias parlamentares. As funcionárias, uma fisioterapeuta, uma estudante de medicina e uma assistente social da prefeitura de João Pessoa, deveriam cumprir jornada de 40 horas semanais, com dedicação exclusiva, mas mantêm outras atividades.
As irregularidades foram expostas após apuração da Folha de S.Paulo, que confrontou documentos públicos, registros de rotina e redes sociais das envolvidas. Após ser questionado pela imprensa em 8 de julho, Motta determinou a exoneração de duas funcionárias, embora os desligamentos ainda não tenham sido publicados oficialmente.
Apenas em 2024, os salários, auxílios e gratificações pagos às três somaram R$ 112 mil. Nenhuma delas utilizava ponto biométrico, já que a Câmara permite o controle remoto de jornada. Gabriela Pagidis, por exemplo, trabalha como fisioterapeuta em clínicas no Distrito Federal e chegou a exibir fotos em atividade durante o expediente. Ela também é filha da ex-chefe de gabinete de Motta.

Outro caso é o de Louise Lacerda, estudante de medicina em tempo integral em João Pessoa e filha de um político aliado do deputado. Também consta como assessora de gabinete desde 2018, mesmo sem ter rotina compatível com o cargo. Já Monique Magno, além de trabalhar na Câmara, atua como assistente social na prefeitura de João Pessoa com jornada de 30 horas semanais.
A legislação proíbe o acúmulo de funções públicas nesse tipo de cargo. Questionadas, as funcionárias se recusaram a explicar suas atribuições ou encerraram o contato com a reportagem. Motta, que está na Câmara desde 2011, também emprega Maria do Carmo Brito, ex-sogra de seu pai, com salário bruto de R$ 2.900 e auxílio de R$ 1.800.
Apesar de também receber aposentadoria do governo estadual, ela declarou não ter vínculo empregatício em processo judicial recente. Procurada, ela desligou o telefone ao ser identificada como fonte. O gabinete de Motta afirmou, por meio de nota, que os funcionários cumprem as obrigações e atuam de forma remota dentro das regras da Câmara, mas se recusou a apresentar registros de ponto ou especificar as funções das servidoras.