Hugo Motta “falhou miseravelmente” contra motim bolsonarista, diz Estadão

Atualizado em 10 de agosto de 2025 às 11:41
Hugo Motta cercado por parlamentares de oposição na Câmara
Hugo Motta após reassumir cadeira na Câmara – Divulgação

O Estadão afirmou em editorial que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), “falhou miseravelmente” ao lidar com o motim bolsonarista na Mesa Diretora, acusando-o de “fraqueza” e “falta de pulso” para punir os envolvidos. O jornal defendeu punição exemplar aos deputados que tentaram blindar Bolsonaro:

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou à Corregedoria da Casa denúncias contra 14 deputados que participaram do assalto antidemocrático à Mesa Diretora há alguns dias. Se realmente estivesse interessado em se recuperar da humilhação pública a que foi submetido, Motta deveria ter dispensado a análise da Corregedoria… e recomendado diretamente ao Conselho de Ética o afastamento dos deputados.

Se era assim que pretendia recuperar sua abalada autoridade, Motta falhou miseravelmente. A Mesa Diretora já fez isso por muito menos: os deputados André Janones (Avante-MG) e Gilvan da Federal (PL-ES) haviam apenas xingado, respectivamente, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e tomaram um gancho de três meses, sem que fosse necessária qualquer análise da Corregedoria.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos – PB), reassume a cadeira de presidente no plenário Ulysses Guimarães após horas de negociação e ameaça de recuo Pedro Ladeira/Folhapress

Tudo isso só evidencia a fragilidade da posição de Hugo Motta. Já havia sido sintomática a notícia de que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) teve de intervir para negociar com os revoltosos e convencê-los a desocupar a Mesa Diretora. Aliados de Motta dizem que, assim, ele evitou que os bolsonaristas conseguissem o que realmente queriam: imagens nas quais saíssem como vítimas de violência da Polícia Legislativa. Trata-se de uma leitura excessivamente benevolente do que aconteceu. Se Motta fosse de fato respeitado, os bolsonaristas nem sequer teriam iniciado a rebelião. (…)

O pretexto dessa turma era obrigar o Legislativo a votar medidas para livrar a cara do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar e prestes a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Mas é lícito presumir que o ato golpista tenha sido armado para desviar a atenção do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil – que, como se sabe, resultou em parte de gestões da família Bolsonaro junto ao presidente Donald Trump e começou a valer justamente nesta semana.

Os bolsonaristas são capazes de tudo. Mas, para piorar um episódio que já era suficientemente lamentável, o PL ainda apelou a uma manobra diversionista e teve a audácia de enviar à Corregedoria da Câmara, por conta própria, uma representação contra a deputada petista Camila Jara (PT-MS), que evidentemente não fazia parte da súcia liberticida. Camila está sendo acusada de ter empurrado Nikolas Ferreira na confusão.

Motta precisa ter pulso. Vai longe o tempo em que a Câmara era presidida por um Ulysses Guimarães, aquele que se gabava de somente decidir sob pressão. Ao tomar posse, em fevereiro passado, Motta até citou Ulysses como sua inspiração, mas em pouquíssimo tempo ficou claro que o atual presidente da Câmara, diferentemente de Ulysses, apavora-se ao menor arreganho.

O levante bolsonarista na Câmara não pode acabar sem uma punição exemplar, sob pena de comprometer de maneira definitiva a autoridade de Motta, que ainda tem mais de um ano de mandato à frente da Casa. Se o deputado quer mesmo recuperar a cadeira da Presidência da Câmara sem fazer dela apenas um assento decorativo, precisa ocupá-la de verdade e assumir o ônus do cargo.