“IA não pode ser privilégio de poucos e nem instrumento de manipulação de bilionários”, diz Lula

Atualizado em 6 de julho de 2025 às 20:18
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante plenária da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. Foto: Pablo Porciuncula/ AFP

Durante a cúpula do Brics realizada neste domingo (6) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a necessidade de democratizar o acesso à inteligência artificial e criticou o uso da tecnologia como ferramenta de concentração de poder.

“A declaração envia uma mensagem clara e inequívoca: as novas tecnologias devem atuar dentro de um modelo de governança justo, inclusivo e equitativo”, afirmou o mandatário. “O desenvolvimento da inteligência artificial não pode se tornar privilégio de poucos países ou um instrumento de manipulação na mão de bilionários. Tampouco é possível progredir sem a participação do setor privado ou da sociedade civil”.

O discurso foi feito na plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, que reuniu líderes do bloco, países parceiros e representantes de organizações internacionais. Lula enfatizou que é essencial garantir que a inteligência artificial esteja a serviço de toda a sociedade, e não apenas de grandes corporações ou potências tecnológicas.

O presidente também aproveitou o momento para criticar a atual estrutura do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que segundo ele funcionam como um “Plano Marshall às avessas”, em que países em desenvolvimento financiam as economias mais ricas.

Lula defendeu reformas que reflitam melhor o peso econômico dos membros do Brics, sugerindo que suas cotas no FMI correspondam a pelo menos 25% dos votos – atualmente, detêm apenas 18%.

Outro ponto de destaque foi a cobrança por justiça tributária global. Lula citou que, desde 2015, cerca de 3 mil bilionários acumularam US$ 6,5 trilhões em riqueza. Para ele, combater a evasão fiscal e tornar os sistemas tributários mais progressivos são medidas indispensáveis para reduzir desigualdades e promover um crescimento econômico inclusivo no século XXI.

O presidente também apontou a “paralisia” da Organização Mundial do Comércio (OMC) diante do avanço do protecionismo global, o que, segundo ele, agrava as assimetrias no comércio internacional. Lula defendeu um novo pacto sobre comércio e clima que distinga práticas ambientais legítimas de barreiras protecionistas disfarçadas.

Na declaração final da cúpula, os países do Brics se comprometeram com a construção de um sistema tributário mais justo e com a regulação de novas tecnologias, como a IA, de forma que respeite os direitos dos povos e promova a equidade. Lula encerrou seu discurso afirmando que “não é possível progredir sem a participação do setor privado e da sociedade civil” nesse processo.