“Tivemos 1.800 alertas em julho e nenhuma ação do Ibama”, denuncia ex-diretor do Inpe

Atualizado em 26 de setembro de 2019 às 22:33
Ricardo Galvão, ex-presidente do Inpe. Foto: Reprodução/YouTube

Publicado no Brasil de Fato:

Um auditório com estudantes e professores que sentaram no chão devido a superlotação da palestra do ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Como parte da programação do Seminário de Pós-graduação em Física, a palestra “O Inpe e o monitoramento dos Biomas brasileiros”, aprofundou conhecimentos sobre o Instituto e levantou o debate sobre a divulgação dos dados referentes ao desmatamento na Amazônia.

Uma das primeiras afirmações de Ricardo Galvão foi considerar que sua exoneração, e todo debate sobre os dados do desmatamento da Amazônia, acabaram por fortalecer o Inpe. “Muitas pessoas me encontram na rua e dizem que não sabiam da existência do INPE e tudo o que ele faz. Os ataques do governo contra o Inpe, acabaram por fortalece-lo”, relatou.

O físico de 71 anos foi exonerado no dia 2 de agosto do comando do instituto que é responsável por realizar monitoramento e estudos, por exemplo, do desmatamento na Amazônia e outro biomas. A exoneração aconteceu após a divulgação de dados de satélites do instituto que indicaram um aumento de 68% do desmatamento na primeira quinzena de julho em relação ao mesmo período do ano anterior. Bolsonaro desferiu críticas ao diretor e chegou a dizer que Galvão estaria a “serviço de alguma ONG”.

Na palestra desta quinta, o cientista apresentou as inúmeras funções e atividades desenvolvidas pelo Inpe, além de cientistas e diretores premiados por seus trabalhos. “A ciência brasileira ainda é encastelada e pouco conhecida da população. A imprensa não trata do que fazemos nos governos. Isso ficou claro quando, após essa polêmica toda, percebemos que a sociedade desconhecia nosso trabalho e a obrigação que temos em divulgar dados”, afirmou.

Sobre a divulgação dos dados a respeito do desmatamento da Amazônia, ele explicou tratar-se de um das tarefas do corriqueiras do Instituto. “A regulamentação que determina a divulgação dos dados para a população. O Plano de Dados Abertos obriga toda instituição pública dar publicidade aos dados”, explicou.

O ex-diretor destacou que o mais preocupante foi que o governo brasileiro foi alertado e não tomou atitude: “Em janeiro foram 1.300 alertas de desmatamento e nenhum movimento feito pelo Ibama. Em julho, foram 1.800 alertas e nada foi feito”, contou.

“Foram 15 alertas por dia de abril a julho, sem nenhuma providencia tomada pelo governo”, concluiu, afirmando também que uma das grandes causas do desmatamento são os discursos antiambientalistas do presidente. “As ameaças, as liberações do governo fragilizaram as inspeções, por exemplo, que deviam ser feitas pelo Ibama”, assinalou.

Por fim, Galvão considerou que a polêmica em torno de sua exoneração só fez crescer a importância do debate amplo na sociedade sobre a produção ciência brasileira. “Tenho visto muita gente reconhecendo que quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da ciência,” disse.

O cientista aplaudido de pé e encerrou dizendo que continuará perseguindo o objetivo de fazer com que a sociedade não seja iludida e venha lutar junto. “É preciso, por exemplo, conscientizar a todos que apagar o fogo das queimadas é apagar o efeito. O que é preciso urgentemente é combater o desmatamento. Por isso, é preciso cobrar que o monitoramento seja feito e que os dados levem o governo a ação”, asseverou.