
PUBLICADO NO AMAZÔNIA REAL
Santarém (PA) – Funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que atuam no sudoeste do Pará, revelaram à agência Amazônia Real nesta segunda-feira (26) como foram as tratativas do órgão ambiental, que solicitou apoio da Força Nacional de Segurança (FNS), subordinada ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, para apoiar a fiscalização e deter a manifestação de produtores rurais do município de Novo Progresso, no dia 10 de agosto, data intitulada por eles como “dia do fogo”. O Ibama diz que a FNS negou o apoio.
Um servidor entrevistado pela reportagem disse que os fiscais em Novo Progresso são poucos, daí precisariam do apoio policial para a fiscalização, pois são ameaçados por madeireiros, fazendeiros e grileiros. Ele pediu à reportagem para não ter o nome revelado, pois teme sofrer represálias.
Essa restrição foi pedida também por todos os fiscais, que estão nos relatos abaixo, por motivo de segurança. Segundo ele, a Força Nacional daria um apoio fundamental para impedir os incêndios florestais no “dia do fogo”.
“O Moro sabia. A gente sempre precisa de segurança nas operações de combate aos desmatamentos e queimadas”, disse um fiscal à Amazônia Real.
Na ocasião do “dia do fogo”, o monitoramento dos incêndios florestais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou um aumento de 300% no número de focos de queimadas na região, confirmando o crime ambiental. Na região, os fiscais do Ibama recebem apoio da polícia por causa das constantes ameaças.
“A gente pediu apoio da Força Nacional, que é autorizada pelo MJ [Ministério da Justiça], mas não foi disponibilizado. Não sei o motivo”, disse outro servidor.
Segundo os fiscais, um pedido de apoio à fiscalização do Ibama, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, foi também solicitado à Polícia Militar do Pará, estado governado por Helder Barbalho (MPB), para conter o “dia do fogo”.
“Não conseguimos apoio para montar a base no Pará, pois a PM se recusou a nos dar apoio”, disse outro servidor do Ibama.
Os funcionários do Ibama deram as declarações à reportagem após serem questionados por que não agiram antes do “dia do fogo”, já que a Procuradoria da República no município de Itaituba, também no sudoeste do Pará, solicitou ao gerente executivo do Ibama de Santarém, Roberto Fernandes Abreu, uma fiscalização em Novo Progresso, no dia 7 de agosto – o que evitaria as queimadas indiscriminadas, como publicou o site da revista Globo Rural.
“Pois é, nossas ações no Pará foram prejudicadas pela falta de apoio policial. O MPF estava ciente”, disse um fiscal.
Um funcionário explicou que, no processo de número 02048.001402/2019-29, de acesso restrito, há os comprovantes de todas as solicitações do Ibama ao Ministério da Justiça.
“Foi encaminhada resposta ao MPF informando sobre a negativa da PM do Pará em apoio ao Ibama e também as tratativas junto a Força Nacional de Segurança”, disse.
Conforme publicou a agência Amazônia Real na primeira reportagem da série Amazônia em Chamas, o desmatamento na região amazônica aumentou 278% no mês de julho deste ano, em relação ao mesmo período em 2018, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alertando para o tempo sombrio. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) desqualificou os dados do instituto, usando um discurso de negação das consequências da degradação ambiental da floresta no país e no planeta.
Mas os incêndios florestais na Amazônia ganharam repercussão internacional, após uma “mega nuvem” de fumaça de estados como Mato Grosso e Rondônia, além da Bolívia, tomar conta do céu de São Paulo, na tarde do dia 19 de agosto.
Veja o vídeo publicado pelo jornal Folha do Progresso: