IBGE detecta mais queda no preço dos alimentos em julho. Por Miguel do Rosário

Inflação de alimentos continua em queda segundo IBGE

Atualizado em 25 de julho de 2025 às 21:13
Lista de compras. Imagem: reprodução

Enquanto bolsonaristas se esforçam para promover uma campanha de que “o Brasil vai quebrar”, a realidade não parece estar dando muita bola para esses esforços. O cenário econômico permanece dinâmico e a inflação está sob controle. O preço de alimentos em especial vem continuando a declinar, o que é fundamental para as faixas mais pobres da população.

Existe uma dupla ironia nos esforços bolsonaristas: ao tentar convencer o governo americano a adotar tarifas gigantescas contra produtos brasileiros, eles podem estar levando os Estados Unidos a tomar medidas que aumentarão a inflação de alimentos por lá. Enquanto isso, se esses alimentos brasileiros – carnes, café, laranja, frutas, pescados e outros produtos – não conseguirem acessar o mercado americano devido às tarifas, eles acabam sobrando mais para o mercado brasileiro, pressionando os preços para baixo.

Gráfico demonstrando a queda da inflação de alimentos.

Os números oficiais confirmam essa tendência. O IPCA-15 é o segundo indicador de inflação mais importante do país, depois do IPCA oficial, sem grandes diferenças metodológicas e divulgado 15 dias antes. O índice divulgado hoje (25/07/2025) pelo IBGE registrou mais uma trégua no bolso do consumidor em julho. Pelo segundo mês consecutivo, o grupo Alimentação e bebidas teve queda de preços, desta vez de -0,06% em julho, após o recuo de -0,02% observado em junho. Para quem faz compras no supermercado, a boa notícia fica ainda melhor: os alimentos consumidos em casa tiveram queda de -0,40% no mês de julho, ou seja, uma queda ainda mais acentuada do que a verificada no mês anterior de junho.

A inflação geral medida pelo IPCA-15, por sua vez, ficou em 0,33% em julho, ligeiramente acima dos 0,26% registrados em junho. No acumulado de 12 meses, o índice chegou a 5,30%, mantendo-se em patamares controlados e próximos da meta de inflação.

Gráfico com a variação mensal do IPCA15

As carnes em geral registraram queda de -0,36% em julho, com a picanha especificamente tendo uma redução ainda mais expressiva de -1,74%. Apesar da melhoria recente, as carnes ainda acumulam alta no período de 12 meses, reflexo das pressões inflacionárias anteriores. Para quem não gosta de carne vermelha e prefere pescado, a notícia é melhor ainda: os preços dos peixes despencaram -2,03% no mês. Aves e ovos também colaboraram para o alívio no açougue, com queda de -0,57%.

A queda no preço da carne brasileira pode já ter sido influenciada pela palhaçada bolsonarista de convencer o Trump sobre as tarifas. Já que o Brasil é um importante exportador desse produto para os Estados Unidos, a proteína que não consegue ir para o mercado americano acaba ficando mais disponível no Brasil, pressionando para baixo os preços e beneficiando o consumidor brasileiro. Uma ironia deliciosa: quanto mais os bolsonaristas tentam prejudicar o país, mais barata fica a picanha na mesa do brasileiro.

O café moído, que vinha castigando os amantes da bebida nacional com altas sucessivas, finalmente deu uma trégua com queda de -0,36% em julho. É mais um exemplo de como os esforços bolsonaristas para prejudicar o Brasil se mostram um tiro no pé. Os Estados Unidos são o principal comprador do café brasileiro, e se as tarifas trumpistas realmente se concretizarem, esse café que não conseguir chegar ao mercado americano ficará mais disponível no Brasil.

O resultado é que o café, que estava muito caro e acumulava alta de impressionantes 48,2% em 12 meses até junho, agora começa a dar sinais de alívio no mercado interno. Para um país que se orgulha de produzir um dos melhores cafés do mundo, nada mais justo que o brasileiro possa tomar um cafezinho mais barato enquanto os bolsonaristas continuam sua campanha de autossabotagem econômica.

Gráfico demonstrando a variação de preço da picanha e do café moído.

Se a cozinha deu alívio, a mobilidade urbana também fez sua parte. Os combustíveis registraram quedas generalizadas em julho: o gás veicular liderou com recuo de -1,21%, seguido pelo óleo diesel (-1,09%), etanol (-0,83%) e gasolina (-0,50%). Para quem depende do carro ou da moto para trabalhar, cada centavo a menos na bomba faz diferença no final do mês.

E o gás de botijão? Bem, este praticamente ficou no zero a zero, com alta simbólica de apenas 0,09% em julho. Para um produto que está presente em 91% dos lares brasileiros e que representa um peso significativo no orçamento das famílias mais pobres, essa estabilidade é importante. Afinal, com o botijão custando entre R$ 130 e R$ 154 – cerca de 10% do salário mínimo – e durando em média 50 dias, qualquer alta significativa seria sentida imediatamente no orçamento doméstico.

No universo dos produtos que fazem parte da rotina familiar, julho trouxe boas notícias. Para as famílias com bebês, as fraldas descartáveis tiveram alta simbólica de apenas 0,08%. Quem tem criança pequena sabe que fralda é gasto certo e constante – então qualquer estabilidade nesse item é bem-vinda. Afinal, bebê não negocia horário para fazer suas necessidades, e os pais agradecem quando pelo menos o preço da fralda não vira uma dor de cabeça adicional.

O papel higiênico, item indispensável em qualquer lar, teve alta modesta de 0,43% no mês, mas acumula apenas 3,06% em 12 meses – uma inflação bem comportada para um produto essencial. Os analgésicos e antitérmicos, aqueles companheiros fiéis para dores de cabeça e febres, subiram apenas 0,05% em julho – praticamente estáveis. Uma boa notícia, considerando que remédio é item de primeira necessidade que ninguém gosta de comprar, mas todo mundo precisa ter em casa.

O cenário econômico favorável se completa com os dados mais recentes do mercado de trabalho. Segundo o IBGE, a renda dos brasileiros tem crescido acima da inflação no período recente. Na última atualização da PNAD Contínua, o rendimento médio mensal dos trabalhadores brasileiros cresceu 3,1% em 12 meses, chegando a R$ 3.457. Esse crescimento já está descontado da inflação, representando um aumento real no poder de compra do trabalhador brasileiro.

Para o presidente Lula, essa tendência de queda nos preços dos alimentos pode representar um respiro importante. Historicamente, a inflação de alimentos é um dos fatores que mais influenciam a aprovação governamental, especialmente entre as classes populares que formam a base eleitoral do petista. Quando a comida fica mais barata, o governo colhe os frutos políticos; quando encarece, sente o peso da insatisfação popular.

Além dos alimentos, combustíveis mais baratos, transporte público com preços estáveis e produtos essenciais com inflação controlada vem proporcionando alívio ao orçamento das famílias. Não é à toa que o governo comunicou a saída de quase 1 milhão de brasileiros do Bolsa Família, em função da melhora da renda.

Por outro lado, alguns itens registraram alta e pressionaram o bolso do consumidor. A energia elétrica residencial liderou as altas com 3,01% em julho e acumula 6,57% em 12 meses, sendo o maior responsável pelo IPCA-15 não ter caído mais, apesar da queda no preço dos alimentos. Com a bandeira tarifária vermelha em vigor, cobrando R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos, a conta de luz continua sendo uma pedra no sapato das famílias brasileiras.

O transporte por aplicativo disparou 14,55% no mês e acumula impressionantes 20,61% em 12 meses. Para quem depende do Uber ou 99 para se locomover, o bolso sente – e muito. Em contraste, o transporte público ofereceu alívio: o ônibus urbano ficou -0,44% mais barato em julho, mas acumula alta de 5,58% em 12 meses, e o metrô teve redução de -0,14% no mês, acumulando 2,90% em 12 meses. É o tipo de cenário que faz o consumidor repensar se não é melhor voltar ao transporte público ou, quem sabe, investir numa bicicleta.

As passagens aéreas também resolveram voar alto, com alta de 19,86% em julho. Apesar da disparada mensal, ainda acumulam queda de -13,28% em 12 meses. É o famoso efeito “julho de férias”, quando a demanda por viagens dispara e os preços acompanham. Para quem planejava viajar em julho, a conta chegou salgada; para quem pode esperar, o cenário anual ainda é favorável.

Os planos de saúde incorporaram os reajustes autorizados pela ANS com alta de 0,35% no mês e acumulam 6,78% em 12 meses.

Já os serviços de streaming mantiveram a inflação baixa, acumulando apenas 0,99% em 12 meses. Os serviços de acesso à internet permaneceram completamente estáveis, sem qualquer variação tanto em julho quanto no acumulado de 12 meses (0,00%).

Se as próximas pesquisas mantiverem a tendência de recuperação da popularidade do presidente Lula que já vem sendo observada, isso confirmará a tese de que a inflação baixa de alimentos está diretamente ligada à melhoria da aprovação presidencial. Para um governo que tem sua base eleitoral concentrada nas camadas populares, nada é mais decisivo do que a comida ficar mais barata na mesa do brasileiro.

Gráfico demonstrando a queda dos preços de produtos alimentícios.

Publicado originalmente em O Cafezinho.