Publicado originalmente no blog do autor
POR KENNEDY ALENCAR
A pesquisa Ibope divulgada hoje sugere que já está ocorrendo no primeiro turno da eleição presidencial um movimento típico de segundo turno.
O discurso de voto útil contra o PT surtiu efeito a favor de Jair Bolsonaro (PSL), que saiu de 22% em 20 de agosto para 28% no levantamento divulgado hoje. O sentimento contra o conservadorismo representado por Bolsonaro se mistura ao “efeito Lula” para turbinar Fernando Haddad (PT), que dá um salto de 4% para 19% no mesmo período.
Nesse intervalo de tempo, Marina Silva (Rede) sofreu uma sangria de votos. Ela caiu de 12% para 6%. Apesar do enorme tempo de propaganda no rádio e na TV, a campanha de Geraldo Alckmin manteve o tucano estacionado. Ele tinha 7% em 20 de agosto e marcou os mesmos 7% agora.
Provavelmente, houve uma troca no eleitorado de Ciro Gomes (PDT). Ele parece ter perdido votos para Haddad no eleitorado tipicamente lulista e conquistado uma parcela do segmento de centro-esquerda que o acha mais competitivo para derrotar Bolsonaro na segunda etapa. Ciro tinha 9% em 20 de janeiro e está com 11% hoje (18 de setembro).
Duelo feroz
O crescimento de Bolsonaro não sugere hoje possibilidade de vitória em primeiro turno. Ele teria de abocanhar eleitores em velocidade maior para almejar tal conquista em 7 de outubro. Também precisaria reduzir a sua alta rejeição (42% no Ibope). O general Mourão tem dado ajuda no sentido contrário. E o eleitorado feminino é seu calcanhar-de-aquiles.
A velocidade do avanço de Haddad sugere que ele pode chegar rapidamente ao patamar de 24%, taxa de preferência partidária pelo PT medida pelo Datafolha. Para ultrapassar esse patamar e competir pela dianteira com Bolsonaro, Haddad precisará continuar a ser beneficiado pelo “efeito Lula” e demonstrar bom desempenho nas sabatinas e debates. É improvável que Haddad consiga sonhar com vitória no primeiro turno.
Outros candidatos precisariam derreter para dar Bolsonaro ou Haddad no primeiro turno. Há muitos competidores no jogo.
O mais provável é que esse movimento típico de segundo turno consolide a polarização entre Bolsonaro e Haddad e exiga uma segunda etapa para resolver o duelo, que promete ser duro.
Sinal importante
Menos conhecido do que Bolsonaro, Haddad já empata com o candidato do PSL na simulação de segundo turno. Ambos apresentaram 40%.