“Ignorante político”: Erundina virou a pedra no sapato italiano de Doria. Por José Cássio

Atualizado em 26 de setembro de 2016 às 8:06
"Prazer, eu sou o Ignorante Político"
“Prazer, eu sou o Ignorante Político”

 

Luiza Erundina virou uma pedra no sapato de João Doria.

Depois de levá-lo ao constrangimento no SBT, quando forçou o tucano a dizer que estava devolvendo o terreno que havia anexado ilegalmente à sua mansão em Campos do Jordão, no debate deste domingo, 25, na Record, a candidata do PSOL buscou inspiração em Bertolt Brecht para defini-lo.

“É incrível a tua ignorância política”, disse Erundina após Doria mais uma vez discursar que “não sou político, sou administrador e gestor e o que me diferencia de Erundina é socializar a riqueza em vez de socializar a pobreza”.

Mais à frente, a candidata do PSOL intensificou as críticas ao comentar sobre as propostas de Doria de “vender” o Anhembi e o Autódromo de Interlagos.

“É coisa que vem da cabeça de alguém que se coloca como gestor mas que na verdade faz papel de lobista”, disparou. “E não é só o Anhembi e o Autódromo que ele quer vender: tem também os cemitérios, já imaginou uma coisa dessas? Quer colocar publicidade nos túmulos.”.

Para Erundina, Doria, ao contrário do que tenta fazer parecer é mais político que os próprios políticos, pois tem uma visão clara do que pretende na vida pública.

“Quer implantar a ignorância e o atraso, vendendo, por meio de lobby, o patrimônio público a preço de banana”.

Doria também foi atacado por Major Olímpio, que insinuou que o Governo do Estado pressionou a base parlamentar do Solidariedade na Assembléia Legislativa após suas críticas aos casos de corrupção no Metro e na merenda escolar.

“Diga ao seu governador que eu não tenho preço”, comentou Olímpio, insinuando ainda que Doria, se eleito, vai lotear as subprefeituras para atender os objetivos de alianças de Geraldo Alckmin visando a eleição presidencial de 2018.

Liderando as pesquisas, Marta também não escapou do fogo cruzado.

Sua gestão na prefeitura e as alianças com o governo de Michel Temer e Gilberto Kassab foram contestadas por Erundina e Haddad.

Erundina lembrou que o governo que Marta defende vai revogar direitos trabalhistas na reforma da previdência e Haddad insinuou que a volta da inspeção veicular, como quer a candidata do PMDB, com a recontratação da Controlar, é um projeto que atende os interesses do ex-prefeito Kassab e que vai gerar prejuízo duplo para a administração.

“É um absoluto ridículo”, afirmou Haddad. “A cidade vai perder em arrecadação de receitas e ainda comprometer recursos de investimentos que poderiam ir para áreas importantes como saúde, educação e transportes”.

Russomanno? O ainda líder nas pesquisas está em vias de encerrar a carreira como candidato a prefeito de São Paulo.

Literalmente, foi trucidado neste debate da Record.

Marta levou documentos para provar seus débitos trabalhistas na falência de um bar em Brasília e Haddad jogou a pá de cal, lembrando que administrar São Paulo não é trabalho para amadores que aplicam 171 em caixinhas de garçons.

Para piorrar, a “Anta” travestida de deputado federal admitiu nas considerações finais que em todas as empresas que fechou por crise ou má administração “nunca deixou de pagar ninguém”. Tem cabimento?

A síntese que se pode fazer do debate da Record é que foi o melhor entre todos os realizados neste primeiro turno.

Do ponto de vista prático, as cartas foram devidamente colocadas na mesa: a se considerar as pesquisas, com Doria, Marta e Russomanno na liderança, os eleitores estão propensos a apostar num candidato com viés conservador de direita.

Haddad e Erundina, colhidos pela crise da esquerda, jogaram tudo no contraponto ideológico e de conceito entre uma cidade mais voltada para os interesses coletivos em relação a outra que coloca o individualismo no primeiro plano.

O encontro foi tenso a ponto de extrair dos candidatos excesso de sinceridade, como quando, irritado com Major Olímpio, João Doria o classificou de “franco atirador”.

– Você tem razão, eu atiro bem, devolveu o candidato do Solidariedade, notório representante da bancada da bala.

Entre mortos e feridos, vamos ver quem se salva no domingo.