A repórter Ilze Scamparini chorou ao vivo durante o Bom Dia Brasil desta terça-feira.
Noticiando sobre o coronavírus, a repórter foi às lágrimas.
Ela estava fechada dentro de um estúdio, com fotografia de fundo. Normalmente suas entradas são ao ar livre, quase sempre nos arredores do Vaticano.
Durante a fala, Ilze nem estava falando sobre a Itália, e sim sobre os hóspedes de um hotel nas Ilhas Canárias que finalmente puderam sair da quarentena e ainda citava os efeitos da epidemia no Reino Unido.
Mas a emoção veio, transbordou. Consequência de muitas semanas seguidas de restrições e pressão psicológica que se abatem em casos de confinamento.
Esse é o clima geral no país, que teve decretado isolamento total na data de ontem. Sem poder trabalhar e com muitos locais de comércio desabastecidos, a tristeza e o medo tomam conta de milhares de moradores.
“Não estou em condições psicológicas de conversar, a situação é insustentável, é estressante. Ainda não adoeci, mas todos vamos pagar as consequências. Não tenho mais força para dar relatos… Obrigado a todos pela preocupação e mensagens de conforto”, escreveu ontem Jennifer Zampieri em sua rede social.
Há alguns dias ela concedeu uma entrevista ao DCM relatando o desabastecimento e desespero da população quando apenas algumas cidades da região da Lombardia estavam sendo colocadas em quarentena. Hoje é o país todo.
Se há desalento, há também revolta. Os italianos estão furiosos com a CNN.
Antes do fechamento total do país, a rede americana divulgou um mapa mundial com a Itália como foco da propagação do coronavírus. Setas vermelhas partiam desde o país da macarronada para todas as direções do globo.
“Gostaria de saber qual é a intenção. Discriminar um país que possui saúde pública e que está administrando melhor, apesar de décadas de cortes, uma situação complexa e emergencial em algumas áreas?”, comentou o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio.
A onda de indignação entre o povo italiano, famoso pelo pavio curto, não tem poupado nem a CNN, nem o ministro. As redes sociais estão em polvorosa.
“Isso é uma vergonha sem precedentes. CNN, vocês são palhaços, mas um palhaço é nosso: Luigi Di Maio que permite essas coisas para outros países”, escreveu o internauta Nicola Sordi.
O mapa que mostra a Itália como origem do surto de coronavírus não é a primeira investida da CNN que parece querer causar pânico intencionalmente entre os italianos.
Antes mesmo da decretação de isolamento da Lombardia (no norte do país) a rede americana havia “vazado” um documento em PDF com a manchete: “Projeto recebido da assessoria de imprensa da região da Lombardia”.
O documento trazia as regras rigorosas – e sem precedentes – que proibiam a entrada e saída de pessoas na Lombardia e em quatorze outras províncias de quatro regiões. As medidas entraram em vigor no dia 8 de março, mas quando a CNN divulgou o documento, o primeiro-ministro ainda nem havia aprovado.
O resultado foi o caos, uma imensa invasão de pessoas na estação Central de Milão. Todas ao mesmo tempo buscando sair da região em direção ao sul antes que as regras passassem a valer.
O presidente Guiseppe Conte teve que ir para a sala de imprensa às duas e meia da madrugada apagar o incêndio. “Inaceitável que o decreto tenha sido publicado antes da hora. Isso criou insegurança e confusão”, afirmou.
Prefeitos, o Presidente do Conselho e a Assessoria de Imprensa da região da Lombardia negaram ter entregue o documento para a imprensa.
Por que diabos a rede americana está empenhada em difundir discriminação contra italianos, por que trocaram a China pela Itália, só se pode especular. O certo é que isso em nada tem colaborado para desanuviar o sentimento de impotência e tristeza. Só gera revolta.