Impasses sobre metas e combustíveis fósseis marcam semana final da COP30

Atualizado em 17 de novembro de 2025 às 14:08
COP30 em Belém (PA). Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A COP30 entrou em sua fase mais delicada nesta segunda (17), em Belém do Pará, com alertas da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre riscos de obstruções nas negociações. A conferência passa ao nível ministerial e os representantes das 195 partes têm apenas cinco dias para fechar um acordo. O momento exige resolver impasses acumulados em temas centrais como adaptação climática, financiamento e metas globais.

O secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, Simon Stiell, chamou a atenção para a urgência. “Há uma grande quantidade de trabalho pela frente para os ministros e negociadores. Apelo para que abordem rapidamente os temas mais difíceis”, afirmou. Ele também advertiu que “não podemos nos dar ao luxo de perder tempo com obstruções”, numa crítica indireta aos bloqueios que voltaram a se repetir nos últimos dias.

O vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou o apelo por consensos, destacando a gravidade da crise climática. “O tempo das promessas já passou. Cada fração de grau adicional no aquecimento global representa vidas em risco”, disse no plenário. O Brasil tenta se posicionar como articulador, mas enfrenta divergências entre os blocos negociadores.

Três pontos travam as discussões. China, Índia e aliados querem que a COP30 condene barreiras comerciais unilaterais, como o imposto europeu sobre carbono. Estados insulares e países latino-americanos, por sua vez, pressionam por maior ambição e pedem que a COP responda às projeções climáticas mais recentes.

Já grandes economias, de China à Arábia Saudita, resistem a qualquer formulação que indique que seus esforços atuais são insuficientes. Outro impasse envolve o financiamento climático. Países africanos e outras nações do Sul Global querem registrar no texto final que os recursos de países desenvolvidos seguem muito abaixo do prometido.

Marcha Global pelo Clima protesta em Belém (PA), em evento paralelo à COP30, no dia 14/11/2025. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

As negociações ganharam um novo “mapa” no domingo, quando o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, divulgou nota com opções divergentes. Segundo analistas, o documento funciona como “menu” para a reta final das conversas.

Para especialistas presentes em Belém, o desafio será equilibrar esses três eixos. Li Shuo, da Asia Society, afirmou à AFP que “a questão, para os ministros, é encontrar um equilíbrio delicado entre esses três temas”.

Já David Waskow, do World Resources Institute, avalia que a nota de Corrêa do Lago oferece um vislumbre do que pode ser o texto de decisão final. Ainda há dúvida, por exemplo, se a menção ao fim dos combustíveis fósseis será parte de um acordo oficial da ONU ou apenas de uma declaração paralela de países voluntários.

O Brasil defende “mapas de ação integrados” para “sair da dependência dos combustíveis fósseis”, segundo Alckmin. A proposta ecoa iniciativas de países como França e Colômbia, mas encontra resistência firme de produtores de petróleo, especialmente a Arábia Saudita. Essa discussão se tornou um dos nós mais complexos da conferência.

Fora das salas de reunião, centenas de indígenas marcharam em Belém para pedir o abandono dos combustíveis fósseis e criticar a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, recentemente aprovada. “Manter a floresta em pé é manter a gente em vida, é manter nosso futuro”, disse João Gabriel Gama, do povo Kumaruara.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.