Impeachment é bandeira da direita. A tarefa é mobilizar oposição consistente. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 17 de maio de 2019 às 20:31
Jair Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR GILBERTO MARINGONI

IMPEACHMENT É BANDEIRA DA DIREITA
A TAREFA URGENTE É MOBILIZAR
E MONTAR OPOSIÇÃO CONSISTENTE

A semana termina movimentada. A carta-bomba divulgada nesta sexta (17) por Jair Bolsonaro indica perda total de rumo de sua gestão. O vai-e-volta na decisão de passar o facão na Educação e uma viagem-fuga a Dallas completam o diagnóstico de um mandatário que se exilou mentalmente num mundo paralelo. Mas Bolsonaro foi além: decidiu xingar a massa.

Nem mesmo João Baptista Figueiredo fez isso nos estertores da ditadura militar. Ao ser informado que o comício das Diretas já! teria levado um milhão de pessoas ao Anhangabaú (SP), em abril de 1984, o general confidenciou a um interlocutor: “Isso é porque eu não estava lá. Se estivesse, seriam um milhão e um”. Figueiredo era tido como bronco e tosco. Mas não botava sorvete na testa.

É PRECISO VERIFICAR como duas ações incisivas atingiram o governo Bolsonaro nos últimos dias. Por “governo” entendo a coalizão que o sustenta – capital financeiro, militares, olavistas e o lumpesinato graúdo.

As ações que podem ter provocado um rombo no casco da coalizão são

A. Povo na rua e

B. O processo aberto contra seu filho Flávio.

Se massa na rua isola socialmente a administração federal de setores mais ou menos organizados, o processo sobre as estranhas relações familiares com o crime organizado e a rota de dinheiro suspeito o aparta da classe média (e da mídia).

VALE SEMPRE LEMBRAR que o moralismo rasteiro, turbinado pela Lava-Jato, foi uma carta-programa informal mas efetiva de campanha. “Nova política” e honestidade de fancaria serviram de argumento a todos os que repudiavam “a volta do PT”.

No que toca ao vastíssimo leque de prejudicados, é essencial impulsionar as mobilizações, com vistas ao 30 de maio e ao 14 de junho. Isso implica centrar fogo nos cortes de verbas que precarizam serviços públicos e na reforma da Previdência.

Para os setores populares, colocar impeachment em pauta é algo insensato, até porque parte da coalizão – militares e possivelmente o mercado – começam a desenhar tal solução. É rota certa para Mourão assumir o cargo. Viria aí o autoritarismo e o neoliberalismo palatáveis e sem ruído entre os de cima.

A chance de Bolsonaro cair e novas eleições serem convocadas é praticamente zero. A Constituição não define se a chapa toda ou apenas o titular serão destituídos em caso de impedimento a essa altura do campeonato.

Falando português claro: impeachment é hoje bandeira da direita!

O campo popular e progressista perdeu as eleições. Não conseguiu ainda organizar uma oposição a altura das necessidades do país, que impeça o desmonte do Estado e a entrega do país. A tarefa agora é acumular forças nas pautas próprias do movimento social. Ir aos quartéis articular o que quer que seja representa neste momento rota suicida é oportunismo de quinta categoria.

O presidente foi e voltou a Dallas. Não desfilou em carro aberto e nem correu riscos maiores do que pagar mico de grandes proporções. Os petardos contra ele e seu governo partiram daqui mesmo.