
Neste domingo (28), Tarso Genro publicou um texto nas redes sociais para tratar das articulações pelo impedimento do ministro Alexandre de Moraes. No artigo, o ex-governador do Rio Grande do Sul aborda a iniciativa de setores da extrema-direita e da direita tradicional e discute os argumentos usados contra o ministro do Supremo Tribunal Federal. Ele resgata o contexto político recente do país e as investidas golpistas após os ataques de 8 de janeiro.
No texto, o ex-ministro de Lula defende que o debate sobre impeachment de um magistrado do STF não deve se basear em alinhamento ideológico, mas em eventuais crimes ou condutas incompatíveis com o cargo:
Aqui dou a minha opinião sobre o tema do impedimento do ministro Alexandre Moraes, proposto pela extrema direita e pela direita tradicional, que se sente ameaçada pela conduta jurídica do ministro Alexandre e que, juntamente com a maioria da Corte, resistiu à tentativa de Golpe de Estado de 8 de janeiro e vem resistindo ao processo de “golpe continuado”, que seguiu àquela tentativa.
Quando se fala do impedimento de um ministro da Suprema Corte, o caminho mais errado para a proposição do debate é a verificação se este ministro é, efetivamente, de direita, de centro ou de esquerda, já que estas posições político-ideológicas são plenamente aceitáveis, na ordem política da nossa Constituição.
O caminho mais correto e juridicamente sustentável para defender um “impeachment” no STF, é o seguinte: primeiro, apontar e provar, se o ministro do STF em questão, está cometendo algum crime – comum ou de natureza política – que gere, em consequência, da sua parte, comportamentos incompatíveis com o exercício político das suas altas funções de Estado; segundo, apontar e provar, que o ministro a ser impedido, com seu comportamento institucional, promove a abdicação, pelo Supremo, das suas altas funções de “Guardião da Constituição”.

Todas estas situações de impedimento, na tradição política macro do nosso país, nunca tiveram a possibilidade de serem testadas, para o impedimento de um ministro da Suprema Corte, ou mesmo de um Presidente da República: aqui, a direita mais dura sempre “cortou” qualquer tipo de exame, jurídico ou político destas questões – em momentos de crise institucional- promovendo golpes de estado de natureza civil-militar, como ocorreu em 64; ou o fazia por movimentos golpistas manipulados ou assemelhados, “por dentro” das instituições, como ocorreu no fantástico caso da presidenta Dilma.
Neste caso, a direita tradicional já aliada com a extrema direita e com os grupos criminosos – já muito atuantes dentro Congresso – instauraram o macrocrime político, dentro da ordem constitucional, com as emendas secretas, através das quais transferiram a administração do Orçamento Público para o Congresso: é o parlamentarismo de perversão.
Assim, Alexandre Moraes, não pela sua ideologia política, mas pela sua coragem e capacidade de resistência ao crime organizado e pela sua postura de defesa da Constituição, tornou-se o objeto de descrédito mais importante para a retomada do golpe continuado e tornou-se, assim, o primeiro de uma fila de ministros que, em sequência, podem ser impedidos pela maioria conservadora, ou criminosa ou “terrivelmente evangélica” que pretende dominar novamente o país.
É sempre bom relembrar, em cada momento de tensão política, que todas as grandes decisões do STF fazem sempre uma síntese superior do Direito Posto na Constituição, com a Política Posta (em circulação) pelas grandes lideranças nacionais, pelo partidos, pelas organizações da sociedade civil, pela mídia oligopólica, cujos interesses e projetos nem sempre são rapidamente visíveis.
É desse material conflitivo que as democracia são feitas e imperfeitas. A tentativa de impedimento do Ministro Alexandre Moraes é um daqueles momentos raros em que tudo fica claro e transparente, mais além dos interesses mesquinhos, que sempre estão presentes em todas as democracias: impedi-lo é restaurar a absoluta insegurança da Democracia Constitucional, rejuvenescida no país com a condenação judicial dos golpistas.
E é dar asas à extrema direita e ao crime organizado, para recuperarem a narrativa de traição nacional que lhes levou a aceitar e até mesmo pedir uma intervenção militar estrangeira no Brasil. Lembremos que esta intervenção, além matar centenas de milhares de civis, destruiriam as nossas Forças Armadas e deixariam o próprio território nacional, sob dominação miliciana do crime organizado e do fascismo.
Falemos claro entre nós, para que o povo nos entenda e saiba, precisamente, quem está ao seu lado para construir um país livre, próspero, republicano e democrático. “Quem fala claro nunca perde o respeito.”
Aqui dou a minha opinião sobre o tema do impedimento do Ministro Alexandre Moraes, proposto pela extrema direita e pela direita tradicional, que se sente ameaçada pela conduta jurídica do Ministro Alexandre e que, juntamente com a maioria da Corte, resistiu à tentativa de Golpe… https://t.co/mAjEpu6upB
— Tarso Genro (@tarsogenro) December 28, 2025