‘Imperador do Brasil’: Financial Times critica Trump por punir Justiça brasileira para proteger Bolsonaro

Atualizado em 23 de julho de 2025 às 9:28
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

O jornalista Edward Luce, colunista e editor do Financial Times, publicou na última terça-feira (22) o artigo “Trump, Imperador do Brasil”, em que critica duramente as tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump ao Brasil.

Segundo ele, o objetivo das sanções é proteger Jair Bolsonaro (PL) e atacar o sistema de Justiça brasileiro. “Punir o sistema legal de uma democracia-irmã por aplicar a lei”, escreve Luce, referindo-se ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aos processos contra o ex-presidente brasileiro.

O jornalista aponta, ainda, que essa política de sanções pode acabar ajudando Lula, não Bolsonaro. “Entre as principais vítimas de uma tarifa americana de 50% sobre o Brasil estariam os pecuaristas e os exportadores de café do país. Ambos os setores são redutos de Bolsonaro. Trump está, portanto, ajudando Lula, não Bolsonaro”, afirma.

Ele argumenta que a guerra comercial pode fortalecer líderes nacionais, como ocorreu no Canadá e na Austrália, ao unir eleitores contra ataques externos.

Luce ironiza: “Em queda nas pesquisas? Rumo ao esquecimento eleitoral? Mark Carney, do Canadá, Anthony Albanese, da Austrália, e agora Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, têm uma solução para você. Faça com que Donald Trump lance uma guerra comercial contra o seu país.”

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O presidente Lula (PT). Foto: Reprodução

Segundo o jornalista, o padrão de imprevisibilidade de Trump não é aleatório: é parte de uma estratégia de poder centrada nele mesmo e em seus aliados autoritários.

Luce chama a estratégia de Trump de “incontinência imperial” e afirma que o republicano usa tarifas como instrumento de poder pessoal. Ele lembra que, mesmo com superávit comercial dos EUA em relação ao Brasil, o país foi alvo da tarifa mais alta, enquanto a Turquia, com déficit, recebeu apenas 10%.

“Isso ocorre apesar do fato de os EUA terem um déficit comercial com a Turquia, diferentemente de com o Brasil”, destaca. O colunista afirma, ainda, que Erdogan, presidente turco com perfil autoritário, pode ser visto com bons olhos por Trump, o que explicaria a diferença no tratamento.

No artigo, ele também critica o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que anunciou a revogação do visto de Alexandre de Moraes, ministro do STF. O magistrado é relator de processos contra Bolsonaro e, para Luce, a medida é mais uma forma de retaliação à Justiça brasileira.

“Se existe um farol liberal democrático hoje em dia na área de Rubio, ele vem de Brasília e Ottawa. Por enquanto, Washington está fora”, afirma, destacando o contraste com os EUA sob a influência trumpista.