Imprensa francesa destaca morte do cacique Aritana, “um dos grandes chefes indígenas do Brasil”

Atualizado em 5 de agosto de 2020 às 15:51
O líder indígena Kamayura, Aritana Yawalapiti, em imagem de agosto de 2005, durante cerimônia na região em que o povo Awara vive, na Amazônia brasileira. AFP

Publicado originalmente no site RFI 

O cacique Aritana Yawalapiti morreu aos 71 anos de idade, após ter sido internado em uma unidade de terapia intensiva em Goiânia há duas semanas, devido a complicações causadas pela Covid-19.

O cacique Aritana Yawalapiti, um dos principais líderes indígenas do Brasil, morreu nesta quarta-feira (5) após ter sido contaminado pelo coronavírus, disse à agência AFP seu sobrinho, Iano Yawalapiti. “Sua morte está confirmada”, disse Yawalapiti por telefone.

Aritana Yawalapiti, que sofria de hipertensão, havia sido internado em uma unidade de terapia intensiva e submetido à respiração artificial há duas semanas, em um hospital em Goiânia, capital do estado de Goiás (centro-oeste), devido a problemas respiratórios relacionados a uma forma grave da Covid-19.

O jornal francês Le Figaro destaca o comunicado da família de Aritana: “Ele foi um grande defensor da luta para preservar e perpetuar a cultura de seu povo para as gerações futuras e um incansável ativista contra o desmatamento”.

Mensagens também foram postadas nas redes sociais da França após o anúncio da morte do cacique. “É um dia triste, um dia de luto pela humanidade”, escreveu a ONG francesa Planète Amazone em sua conta do Facebook. “Uma grande figura na luta indígena morre com o desaparecimento do cacique Aritana, considerado a autoridade máxima no Alto Xingu, onde residem 16 povos indígenas”, continuou a ONG.

O Figaro sublinha a atuação de Aritana na luta pelos direitos das comunidades indígenas.  “Defensor ferrenho dos direitos indígenas e da preservação da floresta amazônica, o cacique era um agente importante na região do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, onde também se encontra o emblemático chefe Raoni Metuktire”, publica o jornal.

Antes de adoecer com o coronavírus, Aritana lançou uma campanha de arrecadação de fundos para facilitar o acesso à saúde de membros de sua comunidade.

O jornal francês destaca ainda o balanço desastroso da pandemia em terras brasileiras: “O coronavírus, cujo número de mortos ultrapassará a marca de 100.000 no Brasil nos próximos dias, atingiu os índios com força, matando centenas deles, devido à menor imunidade e à dificuldade de acesso a cuidados de saúde”.

O jornal La Croix destaca que “mais de 22.000 indígenas foram infectados com a Covid-19 e 633 morreram por causa da doença, segundo a APIB, Associação dos Povos Indígenas do Brasil. Essa organização acusou o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro de não ter feito nada para proteger os nativos da pandemia”.

Legado

Aritana Yawalapiti tinha 71 anos e foi uma das maiores e mais antigas lideranças do Alto Xingu. Ele era um dos últimos falantes do idioma tradicional de seu povo, o Yawalapiti, mesmo nome da etnia.

Além de guardar a memória de sua língua natural, Aritana também falava português e outros quatro idiomas tradicionais indígenas. Ele constantemente denunciou os efeitos do desmatamento no entorno de seu território, como a extinção de peixes dos rios e a contaminação das águas.

Aritana esteve em contato direto com os irmãos Villas-Bôas, defensores da criação do Parque Indígena do Xingu, cuja homologação ocorreu em 1961. Em 1978, ele foi a inspiração para uma novela que levou seu nome, da Tv Tupi, quando marcou toda uma geração de brasileiros.