Inacreditável: Dallagnol se vitimiza e diz que atrocidades contra parentes mortos de Lula eram “besteira”, “bobagem”

Atualizado em 30 de agosto de 2019 às 17:44
Dallagnol em ação

Deltan Dallagnol deu entrevista à BBC Brasil sobre os “supostos” diálogos entre membros da Lava Jato.

Os “supostos” são por conta da BBC, que, por razões obscuras, ainda põe em dúvida a autenticidade deles —  comprovada pelos veículos parceiros do Intercept, por uma procuradora que pediu desculpas a Lula e, last but not, pelo próprio entrevistado.

“As pessoas têm que entender que essas conversas são conversas que você teria na mesa de casa com a família, são pessoas que estão trabalhando há cinco anos juntas, são amigas”, diz o chefe da força tarefa.

“São conversas que você tem com o círculo de intimidade, conversas que você fica à vontade para falar até alguma besteira, uma bobagem, para ser até certo modo irresponsável”.

Que família é essa? Que gente é essa que considera enxovalhar mortos uma diversão?

O sujeito é incapaz de pedir desculpas. Um simples pedido de perdão é impensável para o cidadão de bem.

Ele trata como uma brincadeira colegial atrocidades que não deveriam ser proferidas na esfera pública ou na privada.

Considera uma “besteira” sua declaração de que Marisa Letícia “chegou ao atendimento sem resposta, como um vegetal”.

Entram nesse rol de piadas de salão coisas como:

“Ridículo… uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula…” (sobre o AVC da ex-primeira-dama)

“Querem que eu fique pro enterro?”

“Estão eliminando as testemunhas”.

“A morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica”.

“O foco tá em Brumadinho…logo passa…muito mimimi”.

Também faz uma distinção completamente sem sentido entre os vazamentos que liberavam para a imprensa amiga e as revelações do Intercept.

“Eles mudam o significado de vazamento. Usam vazamento no significado de ‘furo’, de informação inédita”, afirma. “Outra coisa é revelar informação que está sob sigilo judicial. Isso é crime, isso é errado, isso a gente nunca fez.”

Então tá.

Não vê “nada de errado” em usar a imprensa para forçar uma delação.

O errado é “quando não existe voluntariedade. Quando existe coação”.

Ora. E usar o Estadão ou a Folha não é coação?

Além do ileísmo, o hábito idiota de falar de si na terceira pessoa, DD adquiriu o hábito retórico de ele mesmo perguntar e responder.

Com relação às palestras: “É legal? Sim. É legítimo? Sim. É moral? Sim, isso contribui para o debate público de ideias, para alcançar pessoas para uma causa de cidadania, de integridade, o que é positivo.”

O que está acontecendo é uma injustiça enorme, segundo DD.

Januário Paludo, aquele que escreveu “o safado só queria passear” quando Lula conseguiu ver o cadáver do neto Arthur, de 7 anos, merece toda a solidariedade.

Ele é “uma pessoa super humana. Que adotou já umas três, quatro crianças que não tinham um futuro e acolher na família dele. E aí essa pessoa está sendo vilanizada”.

Januário é “uma pessoa sensível, extremamente humana”.

Tudo a humanidade que eles negaram a Lula, transformado num verme, num cachorro, numa não-pessoa, deve servir para os colegas de Dallagnol.

Quando alguém vira um lixo, um nada, tudo é possível.

Foi assim com os negros na escravidão. Foi assim com os judeus no nazismo.

Dallagnol incorpora a banalidade do mal.

A interminável conversa com a BBC apresenta um caso clássico: quando o sujeito passa muito tempo se explicando, é porque não tem explicação.

O problema dele vai além do Direito, da Justiça e começa a pertencer ao terreno da psicopatologia.

Repito: Deus tenha piedade desses cristãos.