Inadimplência deverá aumentar por causa da pandemia de coronavírus

Atualizado em 30 de março de 2020 às 14:27
Notas de real. Foto: Pixabay/Creative Commons

Publicado originalmente no Monitor Mercantil

Após recuo mensal em fevereiro (65,1%), o número de famílias com dívidas voltou a subir em março, chegando a 66,2%, o maior percentual desde o início da realização da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em janeiro de 2010. De acordo com o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a alta também ocorreu na inadimplência: o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso passou de 24,1%, em fevereiro, para 25,3% em março. Já o total de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes saltou de 9,7% (de fevereiro) para 10,2% (março). Os indicadores também registraram aumento no comparativo anual.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, explica que o recorde da proporção de brasileiros endividados revela que as famílias vinham se beneficiando de condições mais favoráveis no mercado de crédito ao consumidor, mas alerta que esse cenário deve se reverter nos próximos meses, em função da crise provocada pelo coronavírus.

“Nesse momento de incertezas sobre a economia, a injeção de liquidez que será promovida vai de encontro ao endividamento já elevado das famílias. Nesse sentido, mostra-se muito importante viabilizar prazos mais longos para os pagamentos, ou alongamentos dessas dívidas, além de mitigar o risco de crédito”, afirma.

Março registrou a segunda alta consecutiva do percentual de famílias sem condições de pagar as dívidas em dia. Em janeiro, este item chegou a recuar ao menor percentual em oito meses. A coleta dos dados desta Peic ocorreu entre 20 de fevereiro e 5 de março, anteriormente à semana em que a pandemia da covid-19 se propagou no Brasil. Mesmo assim, nota-se uma piora nos indicadores de inadimplência, o que possivelmente deverá se acirrar nos meses à frente, pois a tendência é que os consumidores encontrem mais dificuldades para pagar suas contas sem atraso. Em relação à capacidade de pagamento das famílias, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, chama a atenção para dois pontos: o terceiro aumento mensal consecutivo da parcela média da renda comprometida com dívidas, que chegou a 30% em março; e a proporção das famílias que se declararam muito endividadas, que aumentou de 15% em fevereiro para 15,5% em março, além de ter registrado alta de 2,5% na comparação anual.

O cartão de crédito segue em primeiro lugar como o principal tipo de dívida dos brasileiros (78,4%), seguido por carnês (16,2%) e por financiamento de veículos (10,3%).

Outra pesquisa da Kantar, realizada entre os dias 13 e 16 de março, revelou que o coronavírus já preocupava 80% dos brasileiros.

Com isso, a população espera diferentes posicionamentos das marcas. Os brasileiros esperam que elas: sirvam de exemplo e guiem a mudança (25%); sejam práticas e realistas e ajudem consumidores no dia a dia (21%); ataquem a crise e demonstrem que ela pode ser derrotada (20%); usem seu conteúdo para explicar e informar (18%); reduzam a ansiedade e entendam as necessidades dos consumidores (11%); por último, que sejam otimistas e pensem de formas não convencionais (3%).

A pesquisa também questionou que tipo de publicidade deve continuar sendo feita pelas marcas brasileiras: mais de 80% dos entrevistados concordam completamente que elas devem comunicar principalmente seus esforços para enfrentar a situação e sobre como podem ser úteis nesse novo dia a dia, assim como evitar explorar a situação do coronavírus para promover suas marcas.

Na opinião dos brasileiros o mais fundamental nesse momento é se preocupar com a saúde de seus colaboradores, higienizando os locais de trabalho (67%) e possibilitando os horários flexíveis (18%).

A pesquisa foi realizada virtualmente com 500 brasileiros com 18 anos ou mais entre os dias 13 e 16 de março de 2020. A versão completa conta com 17 questionamentos sobre hábitos dos entrevistados relacionados à pandemia. Ele foi feito em 30 mercados com mais de 25 mil consumidores.