O MPL aglutinou milhares de insatisfeitos — insatisfeitos com quê?, eis a questão.
Eu tinha perguntado se a violência era inevitável nas manifestações do Movimento Passe Livre. É preciso queimar lixo? É preciso quebrar ônibus e pichar fachadas de lojas?
É útil e necessário para a causa? Aliás, que causa?
Na quinta-feira, os protestos começaram como sempre. Desta vez, uma multidão reunida na frente do Teatro Municipal. De cara, 50 pessoas foram detidas, dando o tom da noite.
Rapidamente, tudo se transformou numa praça de guerra. Não houve passeata. A PM estava orientada para cercar o centro. A PM não sairia do lugar enquanto não houvesse uma posição daquelas pessoas sobre o rumo que elas pretendiam seguir. A PM queria dispersar a multidão, calculada em 5 mil pessoas.
Na Consolação, a tropa de choque atirou as bombas e aí a coisa pegou.
Vários grupos se espalharam com, basicamente, o mesmo objetivo: chegar à Paulista, como se fosse a capital a ser tomada.
“Atira na sua mãe”, gritava o manifestante de mochila nas costas”.
O MPL aglutinou uma multidão de gente insatisfeita. Insatisfeita com quê? Com as passagens de ônibus? Com a situação, vamos lá, do Brasil? Com Kassab, Haddad e Alckmin? Com a Dilma?
É um erro tentar encontrar uma motivação ideológica clara. Mas há um desejo: confronto. Desafiar a autoridade. Partir para a porrada. Tomar porrada. Contar para os amigos que tomou porrada.
“Fascistas!”
“Filhos da puta!”
A polícia militar fechava ruas e avenidas, inutilmente. Street fighting man. A cada rua que a Trope de Choque bloqueava, os garotos e garotas recuavam e avançavam. Grupos de policiais de moto tentavam conter cada foco de violência.
Um rapaz de 19 anos tomava uma geral ao meu lado. Sua mochila foi revistada. Borrachada na cabeça. “Eu só quero ir pra casa, não tenho nada a ver com isso!”. Os dois policiais saltaram da motocicleta. “Abre essa porra! Vai embora!”
Street fightin man.
“Fascistas!”
“Filhos da puta!”
No restaurante Ritz, os garçons-modelos que fazem teatro de manhã e tentam um bico na Globo olhavam seus pares com uma mistura de desdém e inveja. Um deles pegou um extintor e ajudou a apagar o fogo numa barricada que seus colegas de classe na escola (provavelmente) ajudaram a formar. Dentro do restaurante tudo seguia normalmente.
O MPL acertou ao capturar uma insatisfação. Mas ela vai além da bandeira do movimento. Não se trata mais do aumento de tarifas no transporte. É transformação social? Não é direita ou esquerda. É o quê?
Dez da noite. Tudo em paz.
E então um rapaz com um pano cobrindo o nariz e a boca pega seu isqueiro e incendeia o lixo enfileirado na esquina da rua Augusta com a Matias Aires. De novo, desce a PM.
“Fascistas!”
“Filhos da puta!”
“Atira na sua mãe!”