Incompetente e ignorante: a dura do Estadão e da Globo em Bolsonaro é para fazê-lo entregar logo a reforma da Previdência

Atualizado em 8 de março de 2019 às 12:56
Bolsonaro emparedado

No livro A Radiografia do Golpe, escrito em 2016, Jessé Souza usa a imagem de cinema para definir o que viria a seguir.

“Como todo espectador de filme de gângster sabe muito bem, é fácil juntar aventureiros para assaltar um banco. Difícil é dividir o saque depois”, escreveu.

Este é, precisamente, o momento atual, quando veículos da elite, como O Estadão e O Globo, detonam Jair Bolsonaram, o presidente que ajudaram a eleger.

O Estadão associa Bolsonaro à incompetência, à falta de decoro, à ignorância e ao autoritarismo. Já O Globo diz que ele precisa trabalhar.

Os jornais querem a encomenda da elite financeira do país: a reforma da Previdência.

Ontem, um comentarista da Globonews contou o número de manifestações de Bolsonaro sobre a Previdência no Twitter desde o início do governo: apenas seis vezes.

Ele queria dizer que o homem que a empresa em que trabalha ajudou a eleger — e ele próprio — não está se empenhando o suficiente para mudar as regras da aposentadoria.

Os veículos querem também mais privatização.

Em outras palavras, querem é a transferência do patrimônio público para mãos privadas.

Em troca, contam uma mentira: a de que, depois de aprovada a reforma, os investimentos aumentarão e virão mais empregos.

É o embuste de sempre.

Contaram a mesma mentira no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando garantiram que as privatizações dariam equilíbrio às contas públicas.

No final do segundo mandato de FHC, apesar de um processo de privatização sem precedente — para alguns, selvagem —, a dívida publica, em relação ao PIB, dobrou, o Brasil devia ao FMI e  tinha reservas cambiais em níveis críticos, que tornavam o país presa fácil para movimentos especulativos internacionais.

No governo de Lula e Dilma, a política econômica não foi seguida à risca por editoriais de jornais, o Brasil cresceu e conquistou a menor taxa de desemprego da história — 4,7%.

No governo Temer, as empresas de comunicação, ecoando os interesses da elite financeira, pregaram o congelamento do teto dos gastos sociais e a reforma trabalhista como medidas que trariam empregos e prosperidade.

Temer entregou o que podia.

Resultado: no final do governo Temer, a taxa de desemprego estava acima de 12%, semelhante ao de antes do governo Lula.

Agora, a reforma da Previdência é apresentada como o único caminho para retomar o crescimento econômico.

E há pressa.

Bolsonaro leva em banho maria.

Prefere tuitar sobre o comportamento das pessoas do que sobre o assunto que, ele sabe, lhe tirará popularidade.

Como política é feita de escolhas, está num labirinto.

Cedeu a um projeto neoliberal desde antes de ter o registro de sua candidatura, quando apresentou o banqueiro Paulo Guedes como seu futuro ministro da Economia.

Disse sim a esse projeto, e agora, se fizer corpo mole, vai apanhar bastante. E dificilmente terminará no cargo.

Motivos para buscar afastá-lo já existem.

Basta perseguir o laranjal do PSL e de Queiroz, investigar o esquema milionário das fake news ou considerar a atitude indecorosa de divulgar vídeo pornográfico.

Mas é altamente improvável que Bolsonaro seja colocado para fora antes do desfecho da reforma da Previdência.

Ontem à noite, depois das críticas, ele se mexeu.

Postou uma mensagem no Twitter sobre a reforma e tratou do tema em uma transmissão ao vivo pela internet.

Bolsonaro é desequilibrado, mas não rasga dinheiro.