
A promessa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de conceder um indulto a Jair Bolsonaro (PL) como primeiro ato caso seja eleito presidente reacendeu críticas e análises sobre os riscos políticos de sua estratégia. Especialistas avaliam que a decisão pode ser explorada pelo PT em 2026, reforçando a imagem de Tarcísio como um político alinhado ao golpismo bolsonarista.
Para analistas ouvidos pelo Globo, a aposta de Tarcísio busca fidelizar o eleitorado mais à direita e manter o apoio da família Bolsonaro. No entanto, o gesto pode acabar servindo ao que chamam de “sonho da esquerda”: associá-lo a tentativas de golpe e à rejeição acumulada pelo ex-presidente.
“Acho que o sonho da esquerda é ter um candidato com um discurso bastante calibrado no bolsonarismo para reeditar um pouco aquela retórica de 2022 de que a esquerda era defensora da democracia e contra ela se colocam aqueles que estão contra a democracia”, disse Leandro Consentino, cientista político do Insper.
“A ideia é colocar o Tarcísio nesse figurino de bolsonarista raiz ou de alinhado ao golpismo bolsonarista, como se fosse um preposto, um mero fantoche do Bolsonaro, a ver se de fato ele vai vestir esse figurino”.
Além da promessa do indulto, Tarcísio foi a Brasília nesta semana para articular a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Ele conversou com líderes partidários como Ciro Nogueira (PP), Antônio Rueda (União Brasil) e Marcos Pereira (Republicanos) para pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o tema.

Pesquisa Datafolha e rejeição
Uma pesquisa Datafolha divulgada em agosto mostrou que 61% dos brasileiros não votariam em um candidato que prometesse livrar Bolsonaro e seus aliados de condenações relacionadas ao 8 de janeiro. Apenas 19% disseram que apoiariam com certeza um candidato com esse compromisso.
Para o professor da FGV, Cláudio Couto, Tarcísio acredita que o custo político da promessa é menor do que o ganho de receber a bênção do bolsonarismo.
“Ele acha que o desgaste que ele tende a sofrer com essa declaração custa menos do que o ganho que ele vai ter, digamos, ao obter a unção do Bolsonaro e do bolsonarismo como um todo. Essa é a conta que ele faz”, apontou Couto.
“Isso já está sendo explorado e vai ser ainda mais instrumentalizado no ano que vem. Consequentemente, acho que o custo que o Tarcísio tende a pagar na campanha não será pequeno. Mas depende de quanto o PT vai conseguir aproveitar o discurso de que, se ele endossa o Bolsonaro, então ele pode ser associado a sanções contra o Brasil, a tentativas de golpe, a todas essas coisas que pesam contra o bolsonarismo.”
O “fantoche”
A ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, chamou Tarcísio de “candidato fantoche” de Bolsonaro, em crítica semelhante à usada contra petistas como Fernando Haddad em 2018 e Dilma Rousseff em 2010. Analistas alertam que o governador corre o risco de repetir o destino de João Doria, ficando sem apoio nem da direita nem da esquerda.
“Nos dois casos (Haddad e Tarcísio), eram candidatos com vida própria, mas pagaram um tributo pela vinculação com seus mentores”, disse Couto. Para ele, o desafio de Tarcísio será mostrar, em 2026, se prevalece o gestor moderado ou o político que sobe em palanques ao lado de Bolsonaro.
“E no caso do Tarcísio, por toda essa lealdade canina que ele vem demonstrando ao Bolsonaro até agora. Mesmo ele tendo sido mais discreto antes, do ponto de vista de anunciar a posição a favor do indulto, as últimas declarações são muito fortes. Ele, de qualquer maneira, já subiu em caminhão na Paulista”, afirmou.