Os processos de impeachment contra os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e Carlos Moisés, de Santa Catarina, revelam muito mais sobre o bolsonarismo e o aparelhamento das instituições do que sobre a má conduta dos dois políticos.
Eles estão caindo porque não mantiveram os vínculos com Jair Bolsonaro. Basicamente, é isso.
E como nunca tiveram apoio nas esquerdas ou no que é conhecido como centro, ficaram sem sustentação política.
O Brasil está adotando o parlamentarismo sem as regras do parlamentarismo.
Muito mais enrolado do que os dois está Marcelo Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro, mas ele conseguiu se safar do processo do impeachment e vai ser investigado por uma comissão de mentirinha na Câmara Municipal.
Se a preocupação do parlamento fosse com a moralidade pública, Crivella seria o primeiro a cair, já que as provas apresentadas contra ele são muito mais robustas — para usar um termo que os promotores e procuradores demonstram tanto gostar.
Ele usou servidores como capangas para constranger cidadãos e inviabilizar o trabalho da imprensa, especialmente a Rede Globo.
Além disso, apareceu em investigação do Ministério Público como protagonista de um esquema de corrupção.
Tem mensagem dele trocada com um empresário atolado até o pescoço em malfeitos da prefeitura do Rio de Janeiro.
Já contra Witzel o mais grave que existe é o pagamento de honorários a sua esposa advogada por uma organização contratada pelo Estado.
Contra o governador de Santa Catarina não há rigorosamente nada que indique a necessidade de seu afastamento. Ele é alvo de um processo por crime de responsabilidade por ter dado aumento a procuradores.
O processo lembra, em grande parte, o que ocorreu com Dilma Rousseff. Não havia crime de responsabilidade, mas como a direita, com o PSDB e Eduardo Cunha à frente, queria afastá-la, inventaram as terríveis pedaladas fiscais.
Tanto no Rio de Janeiro quanto em Santa Catarina, os partidos de esquerda, em geral, têm apoiado o impeachment, o que é, politicamente, um erro.
Além de fortalecer o bolsonarismo, vai consolidar o precedente de instalar no Brasil uma espécie de terceiro turno. Perdeu nas urnas, derruba no parlamento.
Aí haverá leilão, para desgraça do Erário. Melhor dizer: do povo. Porque quem financiar o golpe pagará adiantado pelo vai receber do Estado.
A família Bolsonaro está empenhada na derrubada dos dois governantes, em jogo próprio que não agrada nem antigos aliados.
Em Santa Catarina, Eduardo Bolsonaro quer a vice-governadora, Daniela Reinehr, no lugar de Carlos Moisés.
Na quarta-feira, ele postou no Twitter uma mensagem de apoio a ela, também alvo do processo de impeachment.
Pau mandado de Eduardo, Carla Zambelli também se manifestou a favor de Daniela, e recebeu um contragolpe da deputada Ana Caroline Campagnolo, do PSL.
“A deputada estadual Ana Campagnolo só fala de razões políticas para arrancar a vice-governadora. Está mentindo descaradamente para falar das razões para antecipar as eleições de 2022. Ela não fala pelos bolsonaristas nem conservadores. São traidores”, escreveu no Twitter, com a hashtag levantada pelo grupo, #MoisesSaiDaniela fica”, afirmou Zambelli.
Por sua vez, Ana Campagnolo lembrou que, depois de eleita, Zambelli integrou a comitiva que visitou a China, a convite das autoridades de lá, o que despertou a ira de Olavo de Carvalho, guru da extrema direita.
“Os deputados que votaram para salvar a vice-governadora Daniela são dos seguintes partidos: Partido Comunista do Brasil, PDT do Ciro Gomes, Partido Novo, PSDB, PP (e um único deputado do PSL que apoia o Moisés desde o começo). Zambelli, espero que tenha entendido o recado e pare de se meter no que você não sabe. Vá cuidar do Doria e não atrapalhe quem está trabalhando em Santa Catarina. Ou vá pra China!”, escreveu no Facebook.
Os deputados estaduais que votaram pelo impeachment do governador e da vice querem a realização de novas eleições.
Imagens registradas pelo cinegrafista Wenndel Paixão, do NSC TV, pouco antes de iniciar a votação na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, mostram que Carlos Moisés não estava muito preocupado. Ele toma vinho na companhia de outras pessoas.
Segundo Wenndel, ao perceber que estava sendo gravado, manda desligar as luzes.
Depois, em nota, ele manifestou sua “crença na Justiça” e disse que “a pressa com a qual o presidente do Parlamento estadual levou o tema a plenário revela tão somente os interesses políticos daqueles que buscam o poder para fins pessoais e não respeitam o voto dos catarinenses, atentando contra a democracia”.
Por trás deles, está a família Bolsonaro.
Veja o vídeo: