
Ao normalizar Bolsonaro durante as eleições, a Folha sabia muito bem o que estava fazendo: independentemente de ser um notório incapaz e de má índole, o capitão já havia assumido compromissos com o ‘mercado’ para bancar as reformas que o jornal sempre defendeu, especialmente o desmonte das leis trabalhistas.
Bolsonaro entregou o que foi acordado e deu mais: acabou com a Previdência Social, entregando aos bancos, financiadores da Folha por meio de gordas quantias em anúncios de publicidade, o filão da arrecadação da aposentadoria.
Bolsonaro era, e continua sendo, o homem certo na hora certa para as elites, por isso é tão bem avaliado nesse segmento e pouco incomodado pela velha imprensa.
De vez enquando, no entendimento dessa gente, ele ‘escorrega’, como agora na pandemia. Boicota toda e qualquer medida de prevenção e, no fim, acaba pondo em risco a vida inclusive daqueles que bancaram sua chegada ao Palácio do Planalto.
É hora, portanto, de reagir.
Ultrapassar os limites do bom senso e por a vida das pessoas em jogo já é demais.
É o que a Folha faz neste domingo, em Editorial. Dá um puxão de orelha no capitão na esperança dele voltar para os trilhos.
Difícil. Bolsonaro quer o desmonte do Estado não apenas para agradar o jornal e o ‘mercado’. Ele almeja o fundo do poço no afã de começar algo novo, à sua imagem e perfeição.
Leia a íntegra do Editorial
Países bem-sucedidos no controle da epidemia, como Taiwan e Nova Zelândia, devem começar a vacinação contra a Covid-19 apenas a partir do segundo trimestre deste 2021. Assim também será na Coreia do Sul, embora o plano do governo seja objeto de críticas duras.
Os Estados Unidos previam vacinar 20 milhões de pessoas antes do final do ano passado, mas chegaram perto de apenas 3 milhões.
O país mais avançado na campanha é Israel, que já imunizou mais de 11% de sua população. O Canadá tem contrato firme para a compra de doses suficientes para vacinar seus habitantes cinco vezes. Em contraste, nações mais pobres talvez não tenham acesso aos produtos antes do próximo ano.
O cenário mundial da vacinação é muito irregular, como se vê. Campanhas de imunização se mostram ainda muito incipientes e com resultados variados até agora.
De mais certo, nota-se que os países mais ricos correram para reservar doses mais do que suficientes para proteger seus habitantes, segundo dados coletados pelo Centro de Inovação em Saúde da Universidade Duke (EUA).
Além de providências localizadas e mal explicadas na China e na Rússia, a vacinação começou em dezembro, de modo em geral vagaroso, no restante do mundo. Produtores de petróleo e membros da União Europeia também estão entre os mais adiantados.
Cerca de 50 países já iniciaram o processo, embora os números sejam precários e díspares, com somente algumas centenas de doses aplicadas em alguns casos.
Tendo esses dados em vista, o Brasil não pareceria tão atrasado se não fosse o fato de que as perspectivas de imunização aqui são apenas virtuais —nenhum produto encomendado foi aprovado até o momento, faltam estratégias concretas e, no caso do governo federal, até seringas.
Dadas a experiência e a infraestrutura brasileiras de vacinação, houvesse doses suficientes e começando já os procedimentos, pode-se estimar que toda a população adulta poderia estar protegida pouco depois de meados do ano.
Façam-se as comparações. Segundo dados compilados pela Universidade Oxford, até o final do ano passado o México vacinara 0,02% de seus habitantes; no Brasil, isso equivaleria a mais de 40 mil vacinados. No Chile, 0,05%, o equivalente a cerca de 106 mil brasileiros.
Seria um progresso considerável a esta altura, que já estaria beneficiando profissionais de saúde, idosos e outros estratos vulneráveis à doença. Dificilmente, porém, a campanha brasileira começará antes do terço final deste janeiro, e a incompetência mortal do governo Jair Bolsonaro tende a ficar mais evidente a cada dia.