
A economia brasileira deve entrar em 2026 em ritmo mais lento, com crescimento inferior ao projetado para 2025, sem que isso represente um choque relevante para inflação ou emprego. Analistas apontam que a combinação de menor impulso da agropecuária e juros ainda elevados tende a frear o Produto Interno Bruto (PIB), mas o cenário segue distante de uma recessão, com inflação sob controle e mercado de trabalho aquecido. Com informações da Folha de S.Paulo.
As projeções mais recentes do mercado financeiro indicam expansão de 1,8% do PIB em 2026, após avanço estimado de 2,26% em 2025, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central. O dado oficial do PIB de 2025 será publicado em março pelo IBGE.
“É uma economia que está em processo de desaceleração, mas que não deve causar um grande mal-estar para a população, porque a inflação vai estar abaixo [do teto da meta], e o desemprego vai estar relativamente baixo. É um cenário diferente daquele do pós-recessão de 2015 e 2016, por exemplo”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Ele projeta crescimento de 1,5% em 2026, após alta de 2,1% em 2025.
Para a inflação oficial, medida pelo IPCA, Vale estima variação de 4,2% em 2026, depois de 4,4% em 2025. Na mediana das expectativas do mercado, o IPCA deve ficar em 4,05% no ano eleitoral, abaixo do teto de 4,5% da meta perseguida pelo BC.
Analistas avaliam que alimentos podem pressionar um pouco mais os preços em 2026, após o alívio provocado pela safra recorde e pelo dólar mais fraco em 2025, enquanto os serviços tendem a desacelerar com a atividade econômica mais fraca.

A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, deve começar a recuar até o fim do primeiro trimestre, mas encerrar 2026 ainda em dois dígitos. O Focus projeta juros de 12,25% ao final do próximo ano.
“O número menor para a inflação do ano que vem [2026] é a composição de bens importados ainda em patamar confortável com a diferença da inflação de serviços, que a gente acredita que será mais baixa, porque vem a reboque da desaceleração da atividade econômica”, disse Rafael Cardoso, economista-chefe do banco Daycoval, também à Folha.
Cardoso vê na isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 um fator de sustentação do consumo em 2026. “Sempre pode ter algum coelho para ser tirado da cartola que a gente não está vendo, mas a gente não contempla, no nosso cenário-base, que o fiscal tenha algo muito diferente daquilo que está na lei orçamentária”, afirmou.
Para Francisco Pessoa Faria, pesquisador do FGV Ibre, a inflação dos alimentos deve ter uma “subidinha” em 2026, mas o desemprego tende a permanecer baixo. Ele estima crescimento de 1,6% do PIB no próximo ano e taxa de desocupação em torno de 5,1% no fim de 2026. “Por que o desemprego não deve subir? Quem vai contribuir mais para a desaceleração do PIB é a agropecuária, que não pega tanto o emprego”, explicou.
Rodolpho Tobler, também do FGV Ibre, afirma que a desaceleração ocorre de forma “suave”, sem impacto relevante sobre emprego e renda. Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que o mercado de trabalho seguirá forte. “Um mercado de trabalho sólido ajuda a sustentar a atividade econômica, o que é positivo para o país. Por outro lado, esse cenário traz desafios para o controle da inflação, principalmente no setor de serviços”, afirmou.