Influencers brasileiras divulgam programa suspeito de tráfico humano na Rússia; entenda

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 15:30
Influenciadoras Isabella Duarte e MC Thammy em propaganda do “Programa Start”. Foto: Reprodução

Influenciadoras brasileiras têm divulgado nas redes sociais o chamado “Programa Start”, vendido como oportunidade de trabalho na Rússia com salários atrativos, moradia, passagens pagas e curso de idioma. Mas investigações revelam que o projeto, na prática, está vinculado à Zona Econômica Especial de Alabuga, na região do Tartaristão, e funciona como recrutamento para fábricas de drones militares usados na guerra da Ucrânia.

O alvo principal do esquema são jovens mulheres entre 18 e 22 anos, em países marcados pelo desemprego. Anúncios em plataformas como TikTok, Telegram e Facebook apresentam vagas em setores como hotelaria e alimentação, mas participantes denunciam que, ao chegar ao destino, são levadas a trabalhar em linhas de montagem de drones em condições precárias.

MC Thammy, uma das influencers que promoveram o programa no TikTok, apagou os vídeos e declarou ter rompido contrato com a empresa. Em nota, disse que não apoiaria nada prejudicial e que foi enganada por documentos apresentados pelos organizadores. Isabella Duarte, outra tiktoker com quase 3 milhões de seguidores, divulga o trabalho com links para inscrição. “Você já pensou em morar fora, trabalhar e ainda receber por isso? Pois é, se liga nessa oportunidade”, diz ela em um dos vídeos. Veja:

@gugafigueired0

Como tem coragem de divulgar uma coisa dessas? 😱 COMPARTILHE!

♬ som original – Guga Figueiredo

Há relatos de jornadas exaustivas, retenção de passaportes e vigilância constante. Segundo a inteligência ucraniana, em 2024 mulheres de 44 países participaram do programa, e a meta é expandir para 77 até o fim de 2025.

Estima-se que mais de 90% já atuem na produção de drones em Alabuga, onde o governo russo ergue moradias para abrigar milhares de trabalhadores. A fábrica local produziu mais de 5.700 drones iranianos Shahed só em 2024, número recorde.

Fábrica de drones em Abaluga, na Rússia. Foto: Reprodução

O caso chamou a atenção de organizações internacionais. A Interpol e entidades de direitos humanos classificam a iniciativa como possível tráfico humano, cobrando plataformas digitais por permitirem sua promoção.

Países como África do Sul e Argentina abriram investigações, e o governo sul-africano emitiu alertas públicos às jovens sobre o risco das falsas ofertas. Apesar das denúncias, o Kremlin nega irregularidades e afirma que as acusações fazem parte de uma “campanha de desinformação ocidental”. O site do programa não apresenta registro empresarial no Brasil nem canais oficiais de contato.

O tiktoker Adson Pena denunciou o esquema em um vídeo na rede social. “Gente, tomem muito cuidado com os influenciadores que vocês acompanham no dia-a-dia, principalmente quando elas divulgam algo que mexe com seus sonhos”. Confira:

@adsonpena

ATENÇÃO😳 Cuidado com essa nova publicidade que está sendo divulgada sobre um possível intercâmbio! #viral #ailaloures #russia #intercambio #urgente

♬ som original – Adson Pena

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.