Inimigo íntimo: assessor de Bolsonaro é quem está por trás dos ataques a Moro e Mourão

Atualizado em 2 de março de 2019 às 9:02
Carlos Bolsonaro e Filipe Martins

POR CHARLES NISZ

Muita gente estranha os desencontros entre as diversas correntes do governo de Jair Bolsonaro.

Há a turma de Paulo Guedes, a ala militar e os “discípulos” de Olavo de Carvalho. Mas as brigas entre essas três correntes não são fruto de acaso ou desorganização.

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, é alvo frequente dos ataques de Olavo de Carvalho, escritor radicado nos EUA e “ideólogo” do bolsonarismo.

E quem está por trás dos ataques a outros membros do governo é um dos asseclas de Carvalho: Filipe Martins, assessor de assuntos internacionais do governo.

Nesta quinta-feira, mais um nome virou alvo das críticas de Olavo: o ministro da Justiça Sergio Moro.

“O mero antipetismo, separado de uma compreensão abrangente do jogo de poder no mundo, está sempre sujeito a tornar-se o instrumento de algum George Soros. Exemplo: Sérgio Moro. Já no Hamilton Mourão não existe nem mesmo antipetismo, apenas mourãozismo fardado”, escreveu Olavo em seu Facevook.

A origem do comentário foi a nomeação da advogada Ilona Szabó para suplente do Conselho Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

Por conta da gritaria dos radicais no governo, Moro recuou da nomeação e pediu desculpas à especialista, num episódio vexatório para o ex-juiz, alçado ao governo na condição de “superministro”.

Com o recuo de Moro para a indicação de Ilona, Filipe Martins, o assessor de Bolsonaro, comemorou no Twitter: “Grande dia”. A expressão é referência à frase de Bolsonaro usada na ocasião da renúncia ao mandato de deputado federal e exílio de Jean Wyllys.

O roteiro do recuo da nomeação de Ilona Szabó lembra a queda de Gustavo Bebianno, fiador de Bolsonaro no PSL e coordenador de campanha. Olavo atiçou a turba contra Bebianno.

Quando veio a notícia da exoneração (que ainda levaria alguns dias), Martins foi às redes sociais celebrar o que seria um feito de Carlos Bolsonaro (era dele mesmo, Martins).

Na ocasião, usou um versículo bíblico para exaltar a atuação de Carlos Bolsonaro como “volante de contenção do bolsonarismo”. Ativo no Twitter, é Carluxo o encarregado de perseguir o “camisa 10” do time rival.

Mas o caçula dos Bolsonaros certamente tem a ajuda de Martins, o segundo volante desse meio-campo de brucutus.

O fenômeno é comum em grupos reacionários: a minoria radical persegue um moderado por vez, até que o moderado seja expulso pela turba. Com o tempo, os radicais tomam o poder para eles. Assim expulsaram Bebbiano, mas falharam com Mourão

O alvo da vez é Moro.

Mourão percebeu o potencial de Martins em ser a pedra no seu coturno. Tratou de dar um chega-pra-lá no assessor. Além de achar o rapaz inexperiente demais para a função, Mourão foi informado de que o assessor teria sido um dos incentivadores dos ataques desferidos por Olavo de Carvalho contra ele.

Bebianno, Moro, Paulo Guedes e Floriano não tem votos e por isso foram fritados na frigideira de Martins e Carluxo.

A atuação de Martins começou antes mesmo do governo Bolsonaro chegar ao poder. O assessor forneceu apoio à greve dos caminhoneiros, ocorrida em maio de 2018.

Assim como o guru Olavo, Martins via na greve uma “chance de mobilizar a massa” e derrubar o governo Temer, no clamor por uma intervenção militar.

O resultado prático da greve, além dos transtornos país afora, foi ter derrubado o PIB em 2018. Previsões davam conta de crescimento de 2,6% para o ano passado – o número real acabou em minguados 1,1%, conforme divulgou o IBGE nesta semana.

Guerras internas são capazes de derrubar um governo. O olavismo pode ter feito Bolsonaro chegar ao poder, mas Guedes e Moro são os fiadores desse governo.

Se perder o apoio popular e, principalmente, a confiança dos mercados, o capitão pode ter o mesmo fim de Fernando Collor e Dilma.