Inimigos da civilização: Pesquisador dos EUA descobre que todo ódio online do planeta é propagado por 1 milhão de pessoas

Atualizado em 31 de agosto de 2019 às 13:22
Ódio na internet

Lobos solitários, laranjas podres no cesto, infecção viral. Muitas das metáforas usadas para descrever o comportamento online estão coalhadas de expressões das ciências biológicas. Mas e se talvez estivermos usando a ciência errada para tentar entender o ódio online?

Para Neil Johnson, professor de Física da George Washington University (EUA), a disseminação de discurso de ódio na Internet se parece mais com a formação de bolhas numa panela de água fervente – ou seja, é um fenômeno físico, diz o acadêmico em entrevista ao jornal inglês The Guardian.

Após iniciar sua carreira na Universidade de Oxford estudando teoria da complexidade, Johnson emigrou para os EUA. Lá, abriu um novo campo de estudo, aplicando teorias da Física para estudar fenômenos comportamentais complexos, como mercados financeiros, zonas de guerra, manifestações e recrutamento de terroristas.

Essa abordagem inusitada resultou em conclusões surpreendentes. Para Johnson, todo o ódio nas redes sociais é originado de apenas mil “clusters”. Os resultados da pesquisa também sugerem que o antídoto para essa epidemia de intolerância é contra intuitivo.

Descobrimos que existe uma rede fechada de cerca de 1.000 clusters, em todo o mundo, on-line, em todas as plataformas, propagando ódio de todos os tipos. Agora, se houver cerca de 1.000 pessoas em cada uma delas (na verdade, é entre 10 e talvez até 100.000, então digamos 1.000 em média), você terá 1.000 grupos de 1.000 pessoas – ou seja, um milhão de pessoas.

“Se você tem leite na geladeira, um dia esse leite de repente coalha. Isso ocorre porque, microscopicamente, ocorre a agregação de objetos nas comunidades. E a matemática disso funciona perfeitamente para a agregação de pessoas em comunidades”.

“A reação típica é: ‘Mas eu sou um indivíduo, não me comporto como molécula de leite.’ Sim, mas coletivamente o fazemos, por sermos constrangidos pelos outros. Há apenas um certo número de coisas que podemos realmente fazer, e tendemos a fazê-las de novo e de novo”.

“Se eu quiser parar a ebulição da água, não preciso impedir que moléculas individuais pulem no vapor, tenho que impedir que as bolhas se formem. Sabemos que as grandes bolhas se formam das menores”.

“[A primeira proposta] é ir atrás das bolhas menores. Bolhas menores são mais frágeis, têm menos dinheiro, pessoas menos poderosas e crescem naquelas grandes. Assim, eliminar os pequenos – mostramos isso matematicamente – diminui rapidamente a ecologia. Isso corta a oferta.”

“O número 2 é que, em vez de banir indivíduos, mostramos que, na verdade, só é preciso remover cerca de 10% das contas para fazer uma grande diferença em termos da coesão da rede. Se você remover aleatoriamente 10% dos membros globalmente, a coisa começará a desmoronar.”

Sua segunda proposta envolve implantar “clusters anti-ódio”. Como isso poderia funcionar?

“Você engaja [os grupos de ódio] em um conflito e eles atuam como se fosse uma batalha suprema. Isso os atrasa em termos de recrutamento; os ocupa com algo não tão importante.”

Então você está dizendo que lutar com trolls online realmente vale o tempo gasto?

“Sim. Mas faça isso como um grupo, faça como uma comunidade. Não faça isso individualmente, senão isso vai te quebrar.”

Em outras palavras, eles fazem muito barulho, mas não são tão fortes assim. Nem invencíveis.

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Com base em informações do  The Guardian