
A decisão de manter a candidatura de Carlos Bolsonaro (PL) ao Senado por Santa Catarina, mesmo com a abertura de espaço no Rio de Janeiro após Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciar pré-candidatura à Presidência, é vista por integrantes do centrão como um movimento que enfraquece o projeto nacional do filho mais velho do ex-presidente e abre caminho para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Com informações da Folha de S.Paulo.
Na avaliação desse grupo, o cenário natural seria Carlos disputar o Senado pelo Rio, na vaga deixada por Flávio, o que ajudaria a organizar o tabuleiro eleitoral da família Bolsonaro. A insistência na candidatura catarinense, porém, é interpretada como sinal de que a postulação de Flávio ao Planalto pode ser retirada mais adiante para apoiar um nome com maior viabilidade eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Flávio era apontado como favorito à reeleição ao Senado, o que levou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a traçar a estratégia de transferir Carlos para Santa Catarina, com o objetivo de ampliar a presença da família na Casa e reunir aliados para pressionar o STF contra sua condenação na trama golpista. Em 5 de novembro, Flávio anunciou que havia sido escolhido pelo pai como candidato ao Planalto, com “a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”.

Seis dias depois, Carlos renunciou ao mandato de vereador no Rio e transferiu o título eleitoral para São José, na região metropolitana de Florianópolis, apesar da disputa interna na direita local. Ao deixar o cargo, afirmou que ama o Rio, mas parte “com a serenidade de quem sabe que está atendendo a uma missão maior”. “Não é uma fuga, é a continuidade de uma luta”, disse na tribuna da Câmara Municipal.
Santa Catarina é considerada um reduto bolsonarista. Em 2022, Jair Bolsonaro obteve 69,3% dos votos válidos no segundo turno, contra 30,7% de Lula. Em 2024, outro filho do ex-presidente, Jair Renan, foi eleito vereador em Balneário Camboriú. Aliados de Carlos afirmam que a candidatura é irreversível e que ele já mora no estado, onde mantém vínculos pessoais e tem participado de eventos políticos.
A mudança, no entanto, provocou racha na direita catarinense. O governador Jorginho Mello (PL) defendia a reeleição de Esperidião Amin (PP) e a candidatura da deputada Caroline De Toni (PL), mas terá de ceder uma das duas vagas ao Senado a Carlos em 2026. A possível exclusão de De Toni gerou incômodo no PL e ameaça de rompimento da federação entre PP e União Brasil com o governo estadual.
Aliados de Carlos rejeitam a leitura do centrão e afirmam que a decisão não está ligada à disputa presidencial. Em entrevista à CBN, Flávio Bolsonaro disse que o movimento do irmão já estava definido. “Carlos tem esse sonho de Santa Catarina, ele ama aquele estado, ele vive lá há vários e vários anos”, afirmou.
Bolsonaristas também argumentam que o Senado no Rio está mais congestionado, com possíveis candidaturas do governador Cláudio Castro (PL), do líder do PL no Senado, Carlos Portinho, além de Sóstenes Cavalcante, Altineu Cortes, Hélio Lopes e Carlos Jordy. Procurados, Carlos e Flávio não responderam à reportagem.