Inspirado em Serra, Doria deve ser o candidato do PSDB a prefeito de SP. Por José Cássio

A volta dos que não foram

Atualizado em 22 de dezembro de 2022 às 16:52
Em 2002, após o fracasso na eleição presidencial, Serra também era dado como morto, mas ressurgiu dois anos depois como prefeito de São Paulo

Há quem diga de tudo sobre a próxima eleição para a prefeitura de São Paulo, a maior do Brasil, em 2024. Três pontos, porém, são cruciais neste momento que vai determinar a metade do 3o governo e desenhar o cenário para a sucessão de Lula:

1 – Guilherme Boulos é o principal nome da esquerda. Por um detalhe não venceu Bruno Covas em 2020. 

2 – Teria Ricardo Nunes, prefeito que é na verdade um vereador apadrinhado por um golpista, condições de encarar a disputa em condições de vencer?

3 – João Doria é o candidato natural da terceira via.

As movimentações sinalizam para o nome do gestor e isso vai se consolidar se de fato Bolsonaro se tornar carta fora do baralho a partir do ano que vem.

A intensidade e o inusitado das ações de Doria é o que chama a atenção para esse fato.

Em suas redes sociais, transformou o atual governador, Rodrigo Garcia, em subordinado, assumindo para si – mesmo sendo ex, todas as realizações governamentais dos últimos quatro anos (veja posts no final do artigo).

Doria entrou na vida pública como prefeito da capital, em 2016. Fez da cidade trampolim para o governo do Estado, após fracassar na tentativa de disputar a presidência.

Com a caneta do Palácio dos Bandeirantes, tentou moldar um PSDB mais à direita, mas a coisa não funcionou porque não conseguiu atrair a maior parte do movimento ideológico que se mobilizou em torno de Bolsonaro.

Deixou o PSDB dois meses atrás, mas o partido o quer de volta. Especialmente o governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que está dando as cartas no diretório municipal e precisa de uma liderança forte na principal unidade da Federação.

Todos os diretórios do Estado estão sob alerta de intervenção e o que se fala no partido é que muita coisa vai mudar.

O DCM conversou com lideranças da sigla no Grande ABC e confirmou que o ambienta naquela região, considerada a joia da coroa tucana no cinturão metropolitano, é sim de reconstrução do partido.

Boulos é o oponente dos sonhos do conservador Ricardo Nunes

Sobre o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, o que diz é que não toma o café da manhã sem olhar as redes sociais de Guilherme Boulos, que é quem ele enxerga como seu principal adversário na tentativa de reeleição.

Nunes, afllhado de Temer, aproximou-se dos movimentos católicos de direita por meio de Gabriel Chalita. Defende pautas conservadoras e por isso aponta o deputado eleito do Psol como seu aponente natural.

ricardo nunes michel temer
Ricardo Nunes e o padrinho ambicioso

As investidas de Doria, Nunes tenta conter com cargos na máquina ao que ainda restou do grupo de Bruno Covas, que morreu de câncer logo nos primeiros meses de mandato, ainda em 2021.

Entre centenas de pendurados, ele mantém Rodrigo Pires, amigo de Bruno que flana como presidente da SPTuris.

Três grupos de direita estão muito bem posicionados em São Paulo: aquele liderado por Tarcísio de Freitas, os tucanos com a articulação de Eduardo Leite e os possíveis retornos de Rodrigo Garcia e João Doria, o da dupla Temer e Ricardo Nunes, e ainda Gilberto Kassab que dá as cartas e joga de mão tanto no Palácio dos Bandeirantes, comando do governo estadual, quanto no Edifício Conde Matarazzo, sede da prefeitura da capital.

A esquerda, por enquanto, conta com Boulos e a promessa, de boca, de que iria receber apoio do PT caso abandonasse a corrida pelo governo de SP neste ano, o que de fato acabou acontecendo.

A aliados Doria sempre lembra a história de Serra: quando todo mundo o dava como morto e enterrado, após perder para Lula em 2002, decidiu ir pra rua – até cortou cabelo com navalha amolada no couro em Santo Amaro num sábado à tarde.

Dali acabou candidato a prefeito da capital em 2004, para depois vencer o governo do Estado, o senado federal e disputar uma nova candidatura à presidência antes de aposentar as chuteiras agora neste 31 de dezembro.

Doria está mais vivo do que nunca. E com aquele apetite tradicional.

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Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo